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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />

44 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />

O sociólogo<br />

Não poucas pessoas o aconselhavam a concordar em haver chegado o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scan-<br />

so. Eis que morreria se parasse <strong>de</strong> trabalhar. E não parava. Tanto que ainda se impunha<br />

a tarefa <strong>de</strong> escrever o Atlas das Relações Internacionais para o <strong>IBGE</strong>, do qual era <strong>de</strong>cano,<br />

e ainda por cima, <strong>de</strong> redigir a Geohistória das civilizações comparadas, com sua letra,<br />

sempre firme, <strong>de</strong>lineada com o primor <strong>de</strong> uma vinheta. Tudo sem rasuras, sem emendas,<br />

sem erros, num ca<strong>de</strong>rno brochura (Jornal do Brasil, 1980).<br />

Carlos Delgado <strong>de</strong> Carvalho recebeu formação em sociologia na Europa. Ao vir<br />

para o Brasil, no início do século XX, trouxe as bases <strong>de</strong>ssa ciência quase inédita entre<br />

nós. Recém-<strong>de</strong>senvolvida na Europa e nos Estados Unidos, tinha estudiosos no país,<br />

mas como os primeiros cursos universitários <strong>de</strong> Ciências Sociais só seriam criados na<br />

década <strong>de</strong> 1930, o contato com esse campo científico ocorria, em geral, por meio <strong>de</strong><br />

livros importados.<br />

No Brasil, o trabalho no Jornnal do Commercio possibilitou a aproximação com<br />

outros pensadores sociais e, consequentemente, a construção <strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>.<br />

Entre esses contatos intelectuais, estavam os fundadores da Escola <strong>de</strong> Recife.<br />

Esse movimento filosófico, iniciado na cida<strong>de</strong> que lhe <strong>de</strong>ra o nome, abrigava estudiosos<br />

que acreditavam na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renovação da filosofia nacional dominante, baseada<br />

no ecletismo espiritualista. Para atingir tal objetivo, apoiavam-se no positivismo, no<br />

darwinismo e no materialismo. Entre seus a<strong>de</strong>ptos, estavam Tobias Barreto, Clóvis Bevilacqua,<br />

Martins Júnior, Sílvio Romero, Araripe Júnior e Jonathas Serrano. Nessa perspectiva,<br />

Sílvio Romero, no início do século XX, fez uma das primeiras análises sociais da<br />

cultura brasileira a partir <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> investigação empírica com o pensamento <strong>de</strong><br />

sociólogos europeus: Touville, Rousiers, Demolins e outros seguidores <strong>de</strong> Le Play.<br />

Nesse contexto, o convívio <strong>de</strong>sses intelectuais com Delgado <strong>de</strong> Carvalho proporcionado<br />

pelo Jornnal do Commercio foi importante para o <strong>de</strong>senvolvimento do pensamento<br />

<strong>de</strong> base sociológica no Brasil. Delgado <strong>de</strong> Carvalho e A. G. <strong>de</strong> Araújo Jorge<br />

compõem o conselho editorial da Revista Americana. A publicação era um espaço <strong>de</strong><br />

divulgação dos estudos sociológicos do país. Tinha como propósito, assinalado pelos<br />

seus diretores, integrar a intelectualida<strong>de</strong> da América e se constituir um espaço neutro<br />

para divulgação <strong>de</strong> novas i<strong>de</strong>ias: Um campo neutro para a plena expansão <strong>de</strong> todas<br />

activida<strong>de</strong>s mentais, <strong>de</strong> todos os sonhos, <strong>de</strong> todas as aspirações, <strong>de</strong> todos os i<strong>de</strong>ais, <strong>de</strong><br />

tudo quanto pensa concorrer para a mobilização e engran<strong>de</strong>amento da América (Revista<br />

Americana, outubro <strong>de</strong> 1909). Muitos intelectuais da Escola <strong>de</strong> Recife utilizaram esse<br />

espaço.<br />

Outro importante fórum <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates sociológicos foi a Associação Brasileira <strong>de</strong><br />

Educação (ABE). Fundada em 1924, Delgado <strong>de</strong> Carvalho foi um dos seus primeiros<br />

presi<strong>de</strong>ntes, abrigava pensadores que tinham a sociologia como base dos conceitos sobre<br />

a educação. Além do próprio Delgado <strong>de</strong> Carvalho, contava também com Manuel<br />

Bonfim, Carneiro Leão e Fernando <strong>de</strong> Azevedo. A matriz <strong>de</strong>sse pensamento sociológico<br />

tinha como base a organização da nação por meio da organização da cultura. Tal expressão<br />

era utilizada no sentido <strong>de</strong> organizar a socieda<strong>de</strong> através das elites pensadas<br />

como cérebro que dirige o <strong>de</strong>senvolvimento orgânico (CARVALHO, 1997, p. 124). Esse<br />

diagnóstico se baseava em análises a partir <strong>de</strong> teorias sociológicas. Entre os autores citados<br />

para amparar a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>ssa perspectiva estavam Oliveira Viana e Alberto Torres.<br />

Como aborda Carvalho (1997), esses dois autores eram muito citados nos discursos<br />

da ABE, na década <strong>de</strong> 1920. Apesar <strong>de</strong> pontos divergentes, ambos possuíam a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o país precisava se organizar, ou seja, era necessário integrar-se geograficamente,<br />

por meio da expansão das vias <strong>de</strong> comunicação, pelo povoamento dos espaços<br />

vazios e pela educação. Nesse sentido, Alberto Torres <strong>de</strong>fine o papel da elite intelectual,<br />

que acabou por ser adotado pelos intelectuais abeanos: a condução <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> organização<br />

nacional em bases nacionalistas, através da construção <strong>de</strong> um conhecimento

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