Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> política e Geopolítica:<br />
os estudos e proposições <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro............. 131<br />
Criada em 1949, no contexto do alinhamento à política <strong>de</strong> segurança hemisférica<br />
li<strong>de</strong>rada pelos Estados Unidos, a ESG <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua gênese irá incorporar os princípios difundidos<br />
pelos Estados Unidos no continente, consubstanciado no binômio “segurança<br />
& <strong>de</strong>senvolvimento”, baseado na máxima “o caminho para se conquistar a Segurança<br />
consiste na promoção do Desenvolvimento” (FRAGOSO, 1971, p. 1). A partir <strong>de</strong> 1954, a<br />
ESG se responsabilizaria explicitamente pela formulação da Doutrina <strong>de</strong> Segurança Nacional,<br />
cuja atribuição consistia em <strong>de</strong>finir os objetivos nacionais e formular a teoria do<br />
“Po<strong>de</strong>r Nacional”. Esta Doutrina, explicitada na obra <strong>de</strong> Golbery do Couto e Silva, em<br />
1955 e 1957, baseava-se na perspectiva nacional <strong>de</strong> um País sub<strong>de</strong>senvolvido com vistas<br />
a acelerar o seu <strong>de</strong>senvolvimento e alcançar um novo status internacional e, ao mesmo<br />
tempo, mantendo uma visão <strong>de</strong> autonomia relativa no Hemisfério Oci<strong>de</strong>ntal, em face<br />
da hegemonia dos Estados Unidos (BECKER; EGLER, 1993, p. 128-129).<br />
O pensamento geopolítico <strong>de</strong> Therezinha <strong>de</strong> Castro sobre o Atlântico Sul coadunava-se,<br />
portanto, com os <strong>de</strong> outros pensadores geopolíticos ligados á ESG como<br />
Golbery do Couto e Silva e Carlos <strong>de</strong> Meira Mattos. O primeiro consi<strong>de</strong>ra que o papel<br />
do Brasil no Atlântico Sul vincula-se “tese dos hemiciclos”, interior e exterior, <strong>de</strong> articulação<br />
dos Estados no esforço <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa hemisférica. No hemiciclo interior, estão as<br />
terras <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um raio <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 10 000 km que incluem toda a região atlântica das<br />
Américas, África e Antártida, on<strong>de</strong> não haveria ameaças diretas à América do Sul e<br />
ao Brasil. No hemiciclo exterior, encontram-se a Europa, a porção oriental da África, a<br />
Índia, a Austrália e Ásia, foco <strong>de</strong> ameaça potencial para a América do Sul por englobar<br />
o eixo Moscou–Pequim (SILVA, 1967, p. 82). As massas <strong>de</strong> terra da América do Sul, da<br />
África e da Antártida comporiam três áreas articuladas pelo Atlântico Sul e <strong>de</strong>veriam<br />
ser objeto <strong>de</strong> cuidados redobrados no exercício da “contenção” — especialmente na<br />
África, “<strong>de</strong> on<strong>de</strong> um inimigo ativo nos po<strong>de</strong>rá diretamente ofen<strong>de</strong>r, dominando-nos as<br />
comunicações vitais do Atlântico centro-meridional” (SILVA, 1967, p. 87).<br />
O “Continente Negro”, na concepção <strong>de</strong> Golbery, seria a continuação da própria<br />
fronteira brasileira (a “fronteira oriental”) e, como ponto mais vulnerável da “área interior”,<br />
<strong>de</strong>cisivo na segurança do “hemiciclo interior”, <strong>de</strong>veria merecer maior atenção<br />
política por parte do governo brasileiro, em termos <strong>de</strong> segurança mútua. Caberia ao<br />
Brasil “cooperar na imunização também dos jovens países africanos à ‘infecção fatal’ do<br />
comunismo, estar vigilante e atento a qualquer propensão soviética na direção <strong>de</strong>ssa<br />
África Atlântica, on<strong>de</strong> se situa a fronteira avançada e <strong>de</strong>cisiva da própria segurança<br />
nacional” (SILVA, 1967, p. 137).<br />
De cunho mais estratégico, os estudos do General Meira Mattos foram direcionados<br />
para a necessida<strong>de</strong> dos países sul-atlânticos, aliados dos Estados Unidos, <strong>de</strong> constituírem<br />
uma unida<strong>de</strong> que operacionalizasse a <strong>de</strong>fesa do Atlântico Sul contra o inimigo<br />
soviético. Entretanto, as marinhas dos mais importantes países da região - Argentina,<br />
Brasil e África do Sul - não teriam po<strong>de</strong>r suficiente para agir sozinha, mas po<strong>de</strong>riam<br />
contribuir, com participação significativa no conjunto das forças oci<strong>de</strong>ntais, visando à<br />
estruturação <strong>de</strong> uma aliança <strong>de</strong>fensiva, que pu<strong>de</strong>sse produzir um efeito “dissuasório”<br />
eficaz. Meira Mattos (1980, p. 89) pensava num tratado militar, Organização do Tratado<br />
do Atlântico Sul - OTAS que envolvesse as mencionadas potências regionais e as forças<br />
da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN, <strong>de</strong> forma conjunta. A criação<br />
da OTAS, na perspectiva do autor, po<strong>de</strong> ser compreendida nos marcos do “Brasil potência”,<br />
pelo fato <strong>de</strong> representar um “reconhecimento”, mesmo que estendido aos outros<br />
participantes, a partir do qual o papel brasileiro po<strong>de</strong>ria ser privilegiado.<br />
Quanto à professora Therezinha <strong>de</strong> Castro, sua reflexão sobre temas relacionados<br />
ao Atlântico Sul foi bastante ampla, especialmente no tocante ao papel que<br />
o Brasil <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sempenhar nesta bacia. Nesse sentido, caracteriza a posição geográfica<br />
do Brasil como área pivot para a <strong>de</strong>fesa oci<strong>de</strong>ntal, cuja importância é expressa<br />
através do seu conceito <strong>de</strong> “múltiplos vetores”. De acordo com este conceito,<br />
o Brasil representa um “ponto-chave” entre as passagens marítimas caribenhas e<br />
austrais, <strong>de</strong>vido à extensão <strong>de</strong> sua costa e ao seu saliente nor<strong>de</strong>stino em <strong>de</strong>frontação<br />
com o litoral oci<strong>de</strong>ntal africano (CASTRO, 1997, p. 22). O que atribui importância<br />
a esta dimensão marítima do Brasil é o fato <strong>de</strong> as matérias-primas estratégicas, in-