Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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Delgado <strong>de</strong> Carvalho: a trajetória <strong>de</strong> um educador ...................................... 43<br />
para a pesquisa geográfica no país. Nesse sentido, sugere a criação <strong>de</strong> uma associação para<br />
organização <strong>de</strong> encontros, publicação <strong>de</strong> uma revista especializada, criação <strong>de</strong> bibliotecas e<br />
gabinetes <strong>de</strong> prática, pois só assim aconteceria o progresso da geografia em nosso país.<br />
O caráter científico reivindicado por Delgado <strong>de</strong> Carvalho para o ensino encontrou<br />
em Fernando Raja Gabaglia e Everardo Backheuser, professores <strong>de</strong> geografia do<br />
Colégio Pedro II, parceria intelectual que ajudaria a <strong>de</strong>senvolver essa nova perspectiva<br />
na instituição. Juntos, fundaram a Revista <strong>de</strong> Geographia Didactica com objetivo <strong>de</strong> manter<br />
o corpo docente das escolas brasileiras ao par da evolução das sciencias geographicas, das publicações<br />
nacionais e estrangeiras sobre os assumptos e do movimento geral da geographia mundial<br />
(DELGADO DE CARVALHO, op.cit. p. 118).<br />
A este propósito tenho o prazer <strong>de</strong> dizer que o jovem professor <strong>de</strong> geographia em cujas<br />
mãos se acham os <strong>de</strong>stinos do actual programma do Collegio Pedro II, meu illustre amigo<br />
e collega, sr F. Raja Gabaglia, se acha francamente contrário a orientação medieval que até<br />
hoje respeitou. Espírito formado na nova escola geographica, conhecedor das melhores<br />
obras estrangeiras sobre o assumpto, ele se acha em condições <strong>de</strong> emprehen<strong>de</strong>r a gran<strong>de</strong><br />
reforma <strong>de</strong> que necessitamos tanto (DELGADO DE CARVALHO, op.cit. p.7).<br />
Com os mesmos companheiros, participou, na década <strong>de</strong> 1930, da implantação<br />
do curso universitário <strong>de</strong> geografia na Universida<strong>de</strong> do Distrito Fe<strong>de</strong>ral (UDF). Coor<strong>de</strong>nado<br />
por Pierre Deffontaines e Lucien Febvre, dava novo impulso às pesquisas geográficas,<br />
institucionalizando-a como conhecimento autônomo. Discípulo <strong>de</strong> La Blache, como<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho, Deffontaines, dava o tom da escola francesa a estas, implantando<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o meio era responsável pela organização da ativida<strong>de</strong> humana.<br />
Segundo Chartier (1994), as obras não têm sentido único ao longo do tempo.<br />
Estas têm diferentes interpretações <strong>de</strong> acordo com o público que as conhece. Ocorre<br />
uma espécie <strong>de</strong> negociação entre os objetivos do criador e as expectativas do público.<br />
Segundo Machado (2000), a partir da institucionalização da geografia como ciência no<br />
Brasil, na década <strong>de</strong> 1930, pesquisas anteriormente <strong>de</strong>senvolvidas por Delgado <strong>de</strong> Carvalho<br />
passaram a ser vistas com outro olhar, que superava a simples busca pela <strong>de</strong>scrição.<br />
Esse foi um período <strong>de</strong> reconhecimento da importância das obras do geógrafo.<br />
Tal processo envolveu a própria cultura da comunida<strong>de</strong>, que recebeu a obra a partir <strong>de</strong><br />
regras, convenções e hierarquias. Ao prefaciar <strong>Geografia</strong> elementar (1940), o autor relata<br />
essa mudança <strong>de</strong> perspectiva:<br />
Quando os editores, que ora publicam a <strong>Geografia</strong> elementar me incumbiam <strong>de</strong> escrevê-<br />
la, não me conheciam senão pela <strong>Geografia</strong> do Brasil, o que nela apreciaram, provavel-<br />
mente, foi o método; método que <strong>de</strong>vo confessar, fez com que a obra fosse mais bem<br />
recebida pelos estudiosos da <strong>Geografia</strong> do que pelos próprios estudantes. De fato, o livro<br />
era tão <strong>de</strong>masiadamente diferente do programa. Hoje, entretanto, as profundas modifi-<br />
cações <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ram ao método uma maior aceitação (p. 6).<br />
Com a instituição do Estado Novo em 1937, o país é tomado por um amplo projeto<br />
<strong>de</strong> nacionalização cultural. Nesse projeto governamental, a pesquisa geográfica é<br />
encarada como forma <strong>de</strong> promover um melhor conhecimento do território nacional,<br />
consi<strong>de</strong>rando a importância dos conhecimentos geográficos na formação cultural dos<br />
povos, cabendo a divulgação no país dos conhecimentos geográficos com a colaboração<br />
do Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong>. Na prática, caberia ao Conselho Nacional <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>,<br />
do qual Delgado <strong>de</strong> Carvalho foi diretor, publicar mapas <strong>de</strong>stinados ao ensino,<br />
atualizar a literatura geográfica, organizar concursos <strong>de</strong> monografias com o objetivo<br />
<strong>de</strong> divulgar um conhecimento geográfico uniforme. Quando, em 1938, o Conselho foi<br />
incorporado ao Instituto Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> e Estatística, o geógrafo, reconhecido<br />
internacionalmente, continuou até o fim da vida <strong>de</strong>senvolvendo seu trabalho no <strong>IBGE</strong>,<br />
e, representando o país em Congressos internacionais, organizou o Seminário <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong><br />
em Montreal, em 1950. Suas últimas publicações como geógrafo pelo Instituto<br />
foram o Atlas Geográfico e Histórico (1956) e o Atlas das Relações Internacionais (1960):