A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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social, a mesma liber<strong>da</strong><strong>de</strong> mal entendi<strong>da</strong>, a mesmíssima mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> política<br />
dos tempos <strong>de</strong>mocráticos. 37<br />
Sem dúvi<strong>da</strong> o governo português po<strong>de</strong>ria prolongar a sua letargia<br />
administrativa graças ao empenho <strong>de</strong> um missionário tão <strong>de</strong>voto às causas<br />
religiosas quanto simpatizante dos i<strong>de</strong>ais salazaristas. Representante <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologia<br />
do Império não resistiu a abandonar a arquidiocese <strong>de</strong> Goa em 1953 como<br />
manifesto do seu repúdio à nomeação, pelo Vaticano, do primeiro car<strong>de</strong>al goês<br />
para Bombaim:<br />
Deveis tudo a Portugal... Sabeis que o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> Portugal <strong>da</strong> Índia<br />
representará o maior <strong>de</strong>sastre para os católicos goeses. Com o domínio<br />
português, vocês são alguma coisa; sem ele, bem triste será a vossa<br />
situação! 38<br />
Evi<strong>de</strong>nciando uma notável propensão para impor a civilização europeia,<br />
o regime político português dissimula os seus métodos e comportamentos<br />
sustentando-se nos princípios <strong>da</strong> assimilação que resultam do contacto e <strong>da</strong><br />
educação entre o colonizador e os colonizados. Num discurso <strong>de</strong> Marcelo<br />
Caetano, que po<strong>de</strong>remos interpretar <strong>de</strong> pretensioso e dominador, embora Gilberto<br />
Freyre o consi<strong>de</strong>r “notável”, o Presi<strong>de</strong>nte do Conselho apresenta argumentos para<br />
a acção portuguesa:<br />
(…) Vamos transmitindo a mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> nossa, a nossa fé, a nossa cultura, os<br />
nossos costumes, <strong>de</strong> tal maneira que os assimilados se enquadrem <strong>de</strong>pois,<br />
naturalmente, na legislação e nas instituições portuguesas por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>les e não por imposição nossa. 39<br />
A hiponímia, assimilados/integrados ilustra o vocabulário colonial dos<br />
seguidores <strong>da</strong> política salazarista <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> pluri-continental. O regime<br />
37 ANTT-AOS CP-36,1.4.10/5, José Bossa, 1935-1968: cartas manuscritas <strong>de</strong> Dom José a José<br />
Bossa, secretário-geral <strong>da</strong> Administração política e civil do MC, 28 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1942. Apud<br />
Sandrine Bègue, op. cit., p. 88.<br />
38 D. José <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> Nunes apud Teotónio R. <strong>de</strong> Souza, «O caso <strong>de</strong> Goa» disponível em<br />
http://www.ciberduvi<strong>da</strong>s.pt/articles.php? Rid=956, [Consult. em 2008-03-15].<br />
39 Caetano apud Freyre, O Luso e o Trópico, 1961, p. 302.<br />
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