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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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As regalias concedi<strong>da</strong>s entre os habitantes <strong>de</strong> Goa remontam ao tempo<br />

em que Afonso <strong>de</strong> Albuquerque encetou uma política <strong>de</strong> conversão ao<br />

cristianismo e miscigenação no Oriente, conce<strong>de</strong>ndo privilégios aos convertidos.<br />

A evolução sócio-cultural nas colónias portuguesas interveio regulamentando<br />

muitas áreas do dia-a-dia <strong>da</strong>s populações. Consi<strong>de</strong>ramos úteis para a nossa análise<br />

dois aspectos mencionados no texto <strong>de</strong> Oliveira Marques, reportados a séculos<br />

anteriores, porém <strong>de</strong>terminantes para a História <strong>de</strong> Goa e em consonância com a<br />

ficcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> nos romances em estudo: a miscigenação e a mestiçagem<br />

Os casamentos mistos em Goa começaram por 1509. Ca<strong>da</strong> casal<br />

recebia um importante subsídio ou dois em dinheiro, o que rapi<strong>da</strong>mente fez<br />

aumentar o número <strong>de</strong> consórcios. Em três ou quatro anos, mais <strong>de</strong><br />

quinhentos casamentos se haviam efectuado, a sua maioria em Goa, mas uns<br />

quantos também em Cananor e Cochim. Os noivos eram em geral artífices e<br />

sol<strong>da</strong>dos jovens, com meia dúzia <strong>de</strong> nobres também, enquanto as mulheres<br />

pertenciam às castas mais altas hindus. Este facto irritou naturalmente os<br />

Goeses, que encaravam as uniões com <strong>de</strong>sprezo e só relutantemente ou à<br />

força <strong>da</strong>vam o seu consentimento. Mais tar<strong>de</strong> aboliram-se e a política<br />

casamenteira afrouxou, mas já quando estava a surgir uma casta <strong>de</strong> mestiços<br />

<strong>de</strong>votados a Portugal e contribuindo para fazer a sua presença em Goa várias<br />

vezes centenária. 84<br />

Como vemos pelo resumo <strong>da</strong> narrativa a acção é valoriza<strong>da</strong> pela<br />

harmonização entre o espaço, e a vi<strong>da</strong> psicológica <strong>da</strong>s personagens que por sua<br />

vez se ramificam noutros espaços. O número <strong>de</strong> personagens no romance é muito<br />

extenso, num entanto algumas <strong>de</strong>las com relativa evi<strong>de</strong>nciam uma valorização<br />

i<strong>de</strong>ológica que no sentido <strong>de</strong> maior protagonismo em relação às restantes. Esta<br />

tendência distancia-se <strong>da</strong> primeira fase do neo-realismo pautado pela valorização<br />

<strong>da</strong>s personagens colectivas. A última fase do neo-realismo coinci<strong>de</strong> com uma<br />

época <strong>da</strong> História marca<strong>da</strong> já por muitas vitórias políticas e sociais ou, pelo<br />

an<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>ssas lutas no sentido <strong>da</strong> vitória. Sem entrarmos numa exaustiva<br />

enumeração <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s elas i<strong>de</strong>ntificaremos os traços que o romancista formulou<br />

84 Oliveira Marques, op. cit., pp. 340-341.<br />

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