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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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Neste livro, OSDI, achamos algumas <strong>da</strong>s tendências encontra<strong>da</strong>s com<br />

mais frequência a partir <strong>da</strong> revolução <strong>de</strong> Abril 1974. Converge a nossa análise<br />

com a reflexão <strong>de</strong> Alzira Seixo:<br />

A partir <strong>de</strong> 1974 é possível verificar uma reorganização <strong>de</strong>stas várias<br />

tendências, <strong>de</strong> modo algumas vezes conglomerado e outras vezes divergente<br />

mas quase sempre com a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> uma matriz comum que é a do<br />

espaço <strong>da</strong> terra como centro <strong>de</strong> radicação do universo romanesco: a terra<br />

como paisagem, a terra como socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a terra como lugar do humano, a<br />

terra como espaço do drama político, a terra <strong>de</strong>scentra<strong>da</strong> – as Áfricas -, a<br />

terra como exterior – os exílios, as viagens. 72<br />

A abrir o livro o excerto do Canto <strong>da</strong> liturgia dos <strong>de</strong>funtos encaminha o<br />

leitor para O signo <strong>da</strong> Ira como obra profun<strong>da</strong>mente mergulha<strong>da</strong> na dialéctica<br />

senhor/curumbins. A liturgia, para os católicos significa uma entrega a Deus para<br />

a salvação do crente. Não havendo para o Senhor distinção entre pecados, todos<br />

eles são igualmente graves, o pecado <strong>da</strong> avareza protagonizado pelo batcar e por<br />

Rumão, causa a “ira” dos curumbins. A punição pela sua iniqui<strong>da</strong><strong>de</strong> acabará por<br />

chegar com a morte para Rumão e o roubo do arroz para o batcar. A morte <strong>de</strong><br />

Coinção foi um dia <strong>de</strong> miséria mas gran<strong>de</strong> no seu sacrifício, “ (…) Dia <strong>de</strong><br />

bramisse/ dia <strong>de</strong> calami<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> miséria, /dia gran<strong>de</strong> mas quão amargo!”.<br />

A evolução política em Portugal, além <strong>da</strong>s transformações culturais e<br />

sociais, arrolava o distanciamento e uma nova perspectiva <strong>de</strong> leitura na<br />

interpretação <strong>da</strong>s marcas glória e agonia do Império português. “Nestes tempos<br />

ditos mo<strong>de</strong>rnos, só terá futuro quem tenha tido passado, pois o presente é <strong>de</strong>vedor<br />

do passado, sendo por este <strong>de</strong>terminado”. 73<br />

Tecemos nesta etapa do nosso trabalho alguns comentários sobre as três<br />

obras li<strong>da</strong>s do escritor <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong>, passíveis <strong>de</strong> diferenciar ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las<br />

com objectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O romance OSDI pertence aos romances Neo-realistas <strong>de</strong> costumes<br />

com larga significação humana. Uma acção percorri<strong>da</strong> pausa<strong>da</strong>mente por<br />

72 Seixo, A Palavra Do Romance, Ensaios <strong>de</strong> genelogia e análise, p. 72.<br />

73 Lourenço, Portugal Como Destino, Seguido <strong>de</strong> Mitologia <strong>da</strong> Sau<strong>da</strong><strong>de</strong>, 1999, p. 61.<br />

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