A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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esparrela que lhe pregaram os ultras que o ro<strong>de</strong>avam: foi <strong>de</strong>cidido pelo<br />
Governo, na mesma altura, que todos os dirigentes estu<strong>da</strong>ntes encontrados a<br />
promover a agitação nas Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e nos liceus não teriam mais<br />
adiamento do seu serviço militar, e ingressariam imediatamente na tropa…<br />
como sanção para o seu mau comportamento. Foi o melhor presente que o<br />
Governo <strong>de</strong> Salazar podia ter oferecido ao Partido Comunista para sossegar<br />
as escolas, transferiram-se os agitadores para os quartéis e para o mato. O<br />
regime entregava assim <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ja a cor<strong>da</strong> em que iria ser enforcado.<br />
Foi um autêntico xeque ao Rei! 134<br />
Artigos <strong>de</strong> protesto pelo envio <strong>de</strong> tropas portuguesas para África e Índia<br />
são regularmente publicados no jornal Avante.<br />
Nos anos Sessenta o número <strong>de</strong> colonos brancos aumentou<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente nas províncias ultramarinas, principalmente para Angola e<br />
Moçambique. O isolamento do País em relação aos outros estados acelerava-se.<br />
Para o historiador Oliveira Marques, na sua análise sobre a situação política <strong>de</strong><br />
então, «a situação era praticamente controla<strong>da</strong> pela censura e pela P.I.D.E.» 135 nos<br />
finais <strong>da</strong> <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira déca<strong>da</strong> salazarista.<br />
Os intelectuais portugueses conheciam as inovações estéticas que<br />
rompiam as <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes tradições artísticas <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s pelo regime. Um pouco por<br />
todo o país o «aparecimento <strong>de</strong> pequenos núcleos teatrais, em torno <strong>de</strong> «teatros<br />
estúdios», traduzia a níti<strong>da</strong> consciência <strong>de</strong> que o teatro não po<strong>de</strong>ria ficar<br />
confinado às páginas do texto». 136<br />
SFNC é publica<strong>da</strong> durante a presidência <strong>de</strong> Marcelo Caetano sem ter<br />
sofrido restrições censórias. O Presi<strong>de</strong>nte do Conselho mostrara-se incomo<strong>da</strong>do<br />
com o excessivo zelo <strong>da</strong> “Censura” sobre os textos, <strong>de</strong>legou competências na<br />
Comissão <strong>de</strong> Censura que permitiam a censura dos espectáculos teatrais.<br />
A peça <strong>de</strong> teatro, Sem Flores Nem Coroas (1971), sensibiliza-nos pela<br />
sua ousadia e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> dramática. O autor, conhecedor dos dramas <strong>da</strong><br />
134 Os factos referenciados no texto foram confirmados pelo autor em ÁLVARO CUNHAL, Acção<br />
revolucionária, capitulação e aventura, “Edições Avante”, Lisboa, 1994, p. 279-280. A <strong>de</strong>cisão<br />
veio publica<strong>da</strong> no jornal Avante, VI série, nº 382, <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1967. (AMARAL, op. cit., pp.<br />
80-81)<br />
135 Oliveira Marques, op.cit., p. 357.<br />
136 Oliveira Barata, História do Teatro Português, p.350.<br />
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