A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
mãe, embora tão perto, e ambos serão, como veremos mais adiante, apanhados<br />
entre os “valores materiais” e os “valores morais”.<br />
A narrativa avoluma a sua consistência histórica pelo recurso a outros<br />
elementos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> goesa. O papel <strong>de</strong>sempenhado pela imprensa durante as<br />
ultimas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> luta pela afirmação do povo Goês. O Ultramar foi o primeiro<br />
jornal privado <strong>de</strong> Goa, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> Bernardo Francisco <strong>da</strong> <strong>Costa</strong>, eleito <strong>de</strong>putado<br />
em 1857 para as Cortes <strong>de</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> ficou até à sua morte em 1911. António<br />
Maria <strong>da</strong> Cunha foi jornalista <strong>de</strong> O Heraldo, outro dos jornais citados na<br />
transcrição, até 1908. Apresentava ligações e simpatias pelo governo central, será<br />
aliás este último jornal a publicar, após a invasão <strong>de</strong> Goa em 1961, uma edição<br />
extra on<strong>de</strong> na primeira página se lia, Jai Hind!<br />
Outro momento político mencionado na narrativa, este <strong>de</strong> protesto ao<br />
regime, aponta a contestação ao Acto Colonial publicado em <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong><br />
1930. O artigo do referido documento causou a indignação do jornalista anti-<br />
lusitano Luís Menezes Bragança, 94 director do jornal Pracasha.<br />
Foi, porém, a publicação do Acto Colonial, que fez realmente<br />
agitar a tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> colónia, quando numa Sessão do Conselho do<br />
Governo se fez ouvir a voz <strong>de</strong> um nativo ilustre, <strong>de</strong>nunciando o «dogma<br />
colonial» nele contido e, com todo o vigor e brilhantismo <strong>de</strong> tribuno eleito,<br />
repudiar a subalterni<strong>da</strong><strong>de</strong> a que ficavam sujeitos os ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong>s colónias do<br />
Império Português. «É ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi na sessão do dia 4 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1930, há<br />
oito anos portanto, teria você, o quê? talvez doze anos, que isso aconteceu,<br />
disse Ubaldino Antão. Foi então que Manú Miran<strong>da</strong> soube tratar-se do<br />
director do jornal «Pracasha», que ele tão cheio <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> lia em casa<br />
do seu tio Roque Sebastião. (…) O jornal «Pracasha» havia sido suspenso<br />
por portaria do Governador-geral e no próprio dia em que o seu director<br />
faleceu <strong>de</strong>sembarcava em Goa o novo representante do governo […] O<br />
primeiro acto do novo Governador, logo após a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> posse, foi propor<br />
94 Bragança apud Sandrine Bégue, op. cit., p. 132.<br />
Bragança reagiu ao Artigo 2 do acto constitucional <strong>de</strong>clarando: «Portuguese India does not<br />
renounce the right of all people to attain the fulness of their individuality to the point of<br />
constituting units capable of guiding their own <strong>de</strong>stiny for, it is birth right of its organic essence…I<br />
consi<strong>de</strong>r it the most fortunate moment of my public life when the inexorable <strong>de</strong>termination of facts<br />
imposed on me the duty of revindicating for my country the right to <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> its own <strong>de</strong>stiny, by<br />
repelling the absurd pretension of perpetual subjugation. By implication both appeared to be in<br />
favour of the freedom of Goa and ultimately its integration with other parts of India»<br />
(.Shastry:1986:38).<br />
57