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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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“Malditos <strong>de</strong>mónios que nos vieram per<strong>de</strong>r…” (OSDI, p. 16)<br />

“ – É gente estrangeira não são como nós.” (OSDI, p. 28)<br />

“Para eles seremos sempre os hóspe<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>sejáveis…” (OSDI, p. 211)<br />

O narrador <strong>de</strong> OSDI, através do engran<strong>de</strong>cimento do discurso, projecta-<br />

nos para <strong>de</strong>talhes pictóricos e temporais que nos preparam para o <strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong><br />

acontecimentos que afectam um colectivo <strong>de</strong> personagens. No seio do<br />

aglomerado rural ca<strong>da</strong> família vagueia nos seus <strong>de</strong>sígnios cimentados em vagas<br />

convicções. As personagens Bostião, Natel, Quitru, Gustin e Coinção reflectem<br />

uma parte <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goa, <strong>da</strong> casta curumbin, numa época em que não<br />

havia luz eléctrica, o trabalho nas vanganas era duro e o perigo <strong>da</strong> fome<br />

espreitava como os ecos <strong>da</strong> guerra que transformou a “morte numa ameaça lenta<br />

e implacável, mais que uma fatali<strong>da</strong><strong>de</strong> a que todos tinham, cedo ou tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

sujeitar-se” (OSDI, p.5).<br />

No primeiro capítulo do livro o narrador, com pleno enraizamento na<br />

matéria social, avança na diegese alguns indícios carregado <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias. 74 Todo<br />

o sentido do texto se encaminha na dimensão humana, aprofun<strong>da</strong>ndo o<br />

quotidiano <strong>da</strong>s “ mal aventura<strong>da</strong>s gentes con<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s” vivendo constrangi<strong>da</strong>s “em<br />

tempo <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> morte”. Muitos dos autóctones vão ”tentar a vi<strong>da</strong> noutros<br />

lugares” enquanto os mais velhos ficam presos àquela “ terra <strong>de</strong> míngua”.<br />

Des<strong>de</strong> o inicio do século XX que a situação social se <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>va nos<br />

campos goeses à sombra <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 1901 cujas consequências estão<br />

resumi<strong>da</strong>s por Sandrine Bégue numa objectiva visão.<br />

Un décret <strong>de</strong> 1901 avait renforcé ce régime d’esclavage en<br />

décrétant que les propriétaires pouvaient concé<strong>de</strong>r provisoirement à leurs<br />

agriculteurs dés terrains <strong>de</strong>stines exclusivement à la construction <strong>de</strong> leurs<br />

maisons, celles-ci pouvant être, par la suite, reprises à tout moment et sans<br />

aucun motif par la mitre. 75<br />

74 O escritor <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong>, a propósito do livro O Signo <strong>da</strong> Ira, salientou dois aspectos que o<br />

levaram a escrever este romance: «um aspecto em que eu estava longe <strong>da</strong> minha terra, e sentia<br />

como quase uma obrigação <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar uma situação por um lado, e por outro, revelar essa<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que em Portugal se <strong>de</strong>sconhecia»». VALE, op. cit. p. 287.<br />

75 Bègue, op. cit. p. 974.<br />

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