A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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epressora dos comportamentos <strong>da</strong>s personagens. Realmente a acção opressiva do<br />
regime político <strong>de</strong> Salazar revê-se no comportamento <strong>da</strong>s personagens<br />
especialmente, as pertencentes <strong>da</strong>s famílias cristãs como a família brahmane <strong>de</strong><br />
Manú Miran<strong>da</strong>. A morte <strong>da</strong>s irmãs gémeas Leonor e Inês Benigna, e do Pai em<br />
OUOMM e SFNC, respectivamente, traduzem a opressão do regime – os laços<br />
com o passado – impossíveis para eles <strong>de</strong> serem quebrados. Tal como a política <strong>de</strong><br />
Salazar, as personagens eram intransigentes à mu<strong>da</strong>nça. A morte física metaforiza<br />
o fim do Império. O suicídio <strong>de</strong> Roque Sebastião em OUOMM é a prova <strong>da</strong><br />
sufocação <strong>da</strong>s personagens que não escapam às vozes <strong>da</strong> loucura e <strong>da</strong> consciência<br />
pela opressão em que viveram.<br />
Entre as <strong>de</strong>lações que o escritor cuidou em apontar ressalta a questão <strong>da</strong><br />
mestiçagem bem como o preconceito português e colonizador contra as outras<br />
raças. Desculpava-se, quando necessário, o relacionamento dos homens brancos<br />
com mulheres negras “pelas superiores aptidões colonizadoras portuguesas”. 91 O<br />
facto não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> preocupar os políticos e figurar em trabalhos <strong>de</strong><br />
antropólogos. Em 1934 realizou-se no Porto o I Congresso Nacional <strong>de</strong><br />
Antropologia <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se lavrou o parecer final <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações pesa<strong>da</strong>s sobre a<br />
miscigenação. A <strong>da</strong>do passo lê-se:<br />
Uma prática reprovável e a evitar. Embora os estudos científicos<br />
apresentados não corroborem a tese <strong>de</strong> uma inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong> do mestiço, julgase<br />
conveniente <strong>de</strong>saconselhar, por razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, os contactos<br />
sexuais entre «raças» diferentes. 92<br />
O rastilho <strong>da</strong> política discriminatória colonial portuguesa é<br />
inevitavelmente um factor presente na diegese dos romances e no texto dramático<br />
do nosso corpus <strong>de</strong> trabalho. O relacionamento entre colonizados e colonizadores<br />
91 Vicente Ferreira pronuncia-se contra a miscigenação <strong>de</strong>clarando: «Em Portugal há quem o<br />
consi<strong>de</strong>re [o mestiçamento] uma característica <strong>da</strong> raça. Gabamo-nos, até, <strong>da</strong> facili<strong>da</strong><strong>de</strong> com que os<br />
portugueses se acasalam com as mulheres <strong>de</strong> cor, <strong>de</strong>monstração evi<strong>de</strong>nte - segundo os tais - <strong>da</strong>s<br />
superiores aptidões colonizadoras portuguesas!» (Vicente Ferreira apud Castelo, 1999, p. 84).<br />
92 Castelo, op. cit., p. 111.<br />
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