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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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violenta reforçando a repressão através <strong>da</strong> polícia política do Estado. Os<br />

testemunhos <strong>de</strong> alguns sobreviventes são relatos emocionados <strong>da</strong>s injúrias<br />

sofri<strong>da</strong>s pela população. 102 As circunstâncias que proporcionam a revolta<br />

ultrapassam as fronteiras <strong>de</strong> Goa abrangendo um espaço universal 103 <strong>de</strong> estâncias<br />

sociais e psicológicas.<br />

Um só grito atravessou o espaço como a seta <strong>de</strong> Parsurana na<br />

lendária criação <strong>da</strong>quela terra, pareceu um grito solitário e tímido, mas que<br />

arrastou consigo <strong>de</strong> segui<strong>da</strong> um coro <strong>de</strong> vozes bra<strong>da</strong>ndo Mahatma Ghandi<br />

Ki-jai! …Ki-jai! Ki-jai-…! (OUOMM, p. 296).<br />

Sabemos que o autor assistiu a esta manifestação quando se encontrava na<br />

estação dos comboios, no momento em que <strong>de</strong>ixava Margão para viajar até Lisboa<br />

para prosseguir os seus estudos na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras. <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> tinha<br />

<strong>de</strong>zoito anos na altura dos acontecimentos narrados e sentia o privilégio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> goeses. Enten<strong>de</strong>-se, por isso, o orgulho expresso quando nos diz: “A<br />

circunstância <strong>de</strong> Margão existir não só no mapa <strong>de</strong> Goa, mas na memória <strong>da</strong><br />

minha vi<strong>da</strong> não é obra do acaso. È uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> antepassados” (COSTA,<br />

2000:11).<br />

No admirável estudo <strong>de</strong> Sandrine Bégue, sobre os últimos anos do Estado<br />

<strong>da</strong> Índia, enquanto colónia portuguesa, em que temos vindo a apoiar ao longo<br />

102 O acontecimento referenciado está ilustrado <strong>de</strong> forma sucinta nas palavras <strong>de</strong> Teótonio <strong>de</strong><br />

Souza: «A resposta portuguesa foi com metralhadoras, contra os satyagrahas <strong>de</strong>sarmados, incluído<br />

senhoras. Uma campanha <strong>de</strong> repressão <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s civis <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Goa, julgamentos sob tortura<br />

pela P.I.D.E. e o seu Tribunal Militar, <strong>de</strong>portação dos prisioneiros políticos selectos para Peniche,<br />

levou o governo <strong>da</strong> União Indiana a impor um bloqueio a Goa.», Lógicas Imperiais e Processos<br />

Contemporâneos, Analisando Algumas Memórias Coloniais recém-publica<strong>da</strong>s em Goa e em<br />

Portugal, Babilónia, Revista Lusófona <strong>de</strong> Línguas, Cultura e Tradução, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Lusófona,<br />

2008, n.4, p.63,<br />

Disponível em http://re<strong>da</strong>lyc.uaemex.mx/re<strong>da</strong>lyc/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=56100404,<br />

[Consult. em 2009-04-20]<br />

103 «Note-se, entretanto que, para além <strong>de</strong> normalmente se situar num <strong>de</strong>terminado espaço, a<br />

personagem constitui o agente <strong>de</strong> acções variavelmente complexas. Desse espaço e <strong>da</strong> sua<br />

importância como categoria <strong>da</strong> narrativa, <strong>de</strong>ve dizer-se antes <strong>de</strong> mais (e mesmo <strong>de</strong> forma<br />

obrigatoriamente abrevia<strong>da</strong>) que compreen<strong>de</strong>, em primeira instância, os componentes físicos que<br />

servem <strong>de</strong> cenário à história […] em segun<strong>da</strong> instância, o conceito <strong>de</strong> espaço po<strong>de</strong> ser entendido<br />

em sentido translato, abarcando então tanto as atmosferas sociais (espaço social) como as<br />

psicológicas (espaço psicológico).» (REIS, 1995:362).<br />

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