A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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2. Reflexão sobre a peça <strong>de</strong> teatro Sem Flores Nem Coroas<br />
Pelos motivos ditados pela política <strong>de</strong> Salazar, ou agora, pelo rumo que<br />
se traçou para as antigas colónias portuguesas Sem Flores Nem Coroas merece a<br />
nossa melhor reflexão sobre aquele que “era um pequeno território sem expressão<br />
militar e <strong>de</strong> reduzido interesse económico, on<strong>de</strong> gerações <strong>de</strong> portugueses criaram<br />
e enraizaram um tipo sui generis <strong>de</strong> colonização”. 119<br />
A relevância do texto dramático, acentua<strong>da</strong> pelas referências<br />
cenográficas, resulta numa multifaceta<strong>da</strong> sobreposição <strong>de</strong> valores e sentimentos<br />
contraditórios vividos por personagens <strong>de</strong> gerações diferentes. A <strong>de</strong>scrição<br />
atributiva dos ambientes, dos cheiros, <strong>da</strong>s cores e objectos, o magismo <strong>da</strong>s falas,<br />
<strong>de</strong> aprimorado valor estilístico, na sua perspectiva interdisciplinar com a História,<br />
comprova a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do autor reconheci<strong>da</strong> nas palavras <strong>de</strong> Azevedo Teixeira:<br />
Com criação, informação e persuasão suave, além <strong>da</strong> busca constante,<br />
honesta, <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e do Ser, <strong>Orlando</strong> consegue transportar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local<br />
<strong>de</strong> uma experiência humana para o plano superior <strong>de</strong> uma experiência<br />
universal. Doutro modo, a chave do seu saber literário consiste na<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>, começando por apresentar uma forma local, estruturá-la<br />
<strong>de</strong>pois, elevá-la <strong>de</strong>pois, arquetipicamente. 120<br />
Em três actos resi<strong>de</strong>m alguns aspectos pertinentes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica,<br />
social e política que afecta um território oprimido. Uma ficção direcciona<strong>da</strong> para a<br />
representação <strong>de</strong> influência Brechtiana, embora por vezes assuma laivos<br />
aristotélicos.<br />
119 Morais, A Que<strong>da</strong> <strong>da</strong> Índia Portuguesa, Crónica <strong>da</strong> Invasão e do Cativeiro, p. 29.<br />
As afirmações <strong>de</strong> Carlos Alexandre Morais, ao longo <strong>da</strong> Crónica do Cativeiro, levantam ain<strong>da</strong><br />
alguma polémica sobre a posição do Governo <strong>de</strong> Salazar e a atitu<strong>de</strong> política <strong>de</strong> Nehru. Transparece<br />
no entanto uma familiar ligação com a terra e as gentes <strong>de</strong> Goa que, no seu enten<strong>de</strong>r, mereciam<br />
outros direitos.<br />
120 Rui Azevedo Teixeira, O Leitor Hedonista, p.53):<br />
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