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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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No cimo <strong>da</strong> pequena colina, don<strong>de</strong> ele irá assistir – num tempo ain<strong>da</strong> por vir,<br />

aos vinte e oito anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, numa tar<strong>de</strong> do mês <strong>de</strong> Junho, mais<br />

precisamente na tar<strong>de</strong> do dia 18 <strong>de</strong> Junho do ano <strong>da</strong> graça <strong>de</strong> 1946 – à<br />

primeira gigantesca <strong>de</strong>monstração popular <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência civil que algum<br />

dia ocorreu em to<strong>da</strong> a história <strong>de</strong> Margão ou mesmo em todo o território <strong>de</strong><br />

Goa e ao <strong>de</strong>spertar <strong>da</strong> sua própria consciência cívica perante o florescer <strong>de</strong><br />

um novo patriotismo, fruto até aí proibido <strong>de</strong> uma lenta incubação (OUOMM,<br />

p. 246).<br />

A apatia i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> Manú Miran<strong>da</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> atingir um nível <strong>de</strong><br />

consciência social e política, até aí numa ”lenta incubação”. È sem duvi<strong>da</strong> um<br />

apelo do narrador, estimulado pelas tendências do movimento neo-realista, às<br />

consciências adormeci<strong>da</strong>s ou apáticas que, por <strong>de</strong>sconhecimento ou receio, não<br />

reivindicam ou protestam.<br />

NAQUELA TARDE <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1946, cerca <strong>de</strong> doze<br />

anos e meio antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> do último Governador-Geral do Estado <strong>da</strong><br />

Índia, Margão apareceu aos olhos e aos ouvidos <strong>de</strong> Manú Miran<strong>da</strong> como a<br />

mais surpreen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s visões em que alguma vez participou na sua vi<strong>da</strong>.<br />

Libertadora e sufocante. Visão tivera muitas. Outros tantos sonhos que se<br />

<strong>de</strong>sfizeram, sem eco, a ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>spertar. Mas <strong>de</strong>ssa vez, apesar <strong>de</strong> se ter<br />

limitado a ver o que via e a ouvir o que podia ouvir, foi como se, mesmo a<br />

contra – gosto fizesse parte do imenso coro colorido <strong>de</strong> vozes quase <strong>de</strong><br />

silêncio que acompanhavam os passos do infindável cortejo (OUOMM, p.<br />

203).<br />

O tio Roque Sebastião surpreen<strong>de</strong>u o sobrinho com o seu tom <strong>de</strong> voz<br />

apreensivo, por reconhecer a clarividência dos hindus, um comportamento a que o<br />

rapaz não estava acostumado:<br />

“Eles sabem melhor do que nós o que querem e talvez sejam mais<br />

<strong>de</strong>stemidos”. Manú continuava surpreso, uma multidão «or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> quase<br />

to<strong>da</strong> traja<strong>da</strong> <strong>de</strong> branco, [<strong>de</strong>pois], começaram a surgir alguns sinais <strong>de</strong> cor,<br />

aqui e além, em pequenos grupos <strong>de</strong> compactos e o tio volta a repetir: «Eles<br />

sabem melhor do que nós o que querem (OUOMM, p. 293-294).<br />

A <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1946 em Margão trouxe para as memórias dos<br />

satyagrahas o dia do recomeço <strong>da</strong> luta pela mão <strong>de</strong> Ram Manhoar Lohia, político<br />

e socialista indiano. A polícia portuguesa reage às manifestações <strong>de</strong> forma<br />

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