29.04.2013 Views

A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Armindo Rodrigues, os silêncios do Carlos Oliveira, gran<strong>de</strong> poeta, gran<strong>de</strong><br />

prosador. 66<br />

Dois anos antes <strong>da</strong> que<strong>da</strong> <strong>de</strong> Goa o autor começou a escrever OSDI,<br />

dominado pela consciência <strong>da</strong> iminente mu<strong>da</strong>nça prestes a acontecer em Goa.<br />

Doze anos após ter chegado a Lisboa <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> afirma tê-lo feito, não por<br />

ser “anti-português”, nem “anti-colonialista”, apenas sentiu uma obrigação moral<br />

por saber que “lá” se estavam a passar muitas coisas. 67<br />

Em 1961 a Aca<strong>de</strong>mia <strong>da</strong>s Ciências atribui-lhe o Prémio Ricardo<br />

Malheiros pelo romance O Signo <strong>da</strong> Ira, aquilatado por Vimala Devi e Manuel<br />

Seabra como:<br />

… Um romance neo-realista. Isto quer dizer que se enquadra na escola<br />

literária inicia<strong>da</strong> por finais <strong>da</strong> II Guerra Mundial por Soeiro Pereira Gomes,<br />

Alves Redol e outros e continua<strong>da</strong> por Carlos <strong>de</strong> Oliveira, Manuel <strong>da</strong><br />

Fonseca, Fernando Namora, Manuel do Nascimento, Romeu Correia,<br />

Antunes <strong>da</strong> Silva, etc. Procurava a escola neo-realista apresentar literalmente<br />

uma interpretação dialéctica do real, contra a tendência anarquizante dos<br />

escritores <strong>de</strong> entre as duas guerras, cujo principal representante é Ferreira <strong>de</strong><br />

Castro. O neo-realismo português seguiu na esteira do neo-realismo<br />

brasileiro <strong>de</strong> Jorge amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, e do<br />

norte-americano, cujos principais representantes, John Steinbeck e Erskine<br />

Caldwell, analisando as contradições <strong>da</strong> sua época, procuraram <strong>de</strong>scer até às<br />

massas para interpretar os seus problemas e anseios. Ao tentarem interpretar<br />

dialecticamente a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, os escritores portugueses neo-realistas<br />

<strong>de</strong>bruçaram-se sobre o camponês - raras vezes sobre o operário - e <strong>da</strong>s<br />

contradições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que se vive criaram belos romances que,<br />

durante cerca <strong>de</strong> duas déca<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>spertaram gran<strong>de</strong><br />

popular <strong>de</strong> raiz camponesa e proletária, sem que o publico a que logicamente<br />

ia dirigi<strong>da</strong> a pu<strong>de</strong>sse enten<strong>de</strong>r. Além <strong>de</strong> o nível económico e cultural <strong>da</strong>s<br />

massas não ser suficientemente elevado para po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r e aceitar as<br />

obras literárias neo-realistas, estas, dirigi<strong>da</strong>s à média burguesia e ao pequeno<br />

intelectual, careciam <strong>da</strong>s características que as po<strong>de</strong>riam tornar aceitáveis<br />

pelas massas. È que, por fim <strong>de</strong> superar <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s restrições e<br />

insuficiências, os escritores neo-realistas criaram uma linguagem – código só<br />

compreendi<strong>da</strong> por iniciados, e restringindo ain<strong>da</strong> mais fortemente o próprio<br />

público a que se dirigiam a um pequeno sector iniciado. Criou-se <strong>de</strong>ste modo<br />

uma espécie <strong>de</strong> literatura <strong>de</strong> catecúmenos, <strong>da</strong>ndo origem a um falso estilo<br />

66 Graça, (2000), pp.7-8.<br />

Texto incluído na publicação alusiva à Exposição Documental <strong>de</strong> Outubro 2000: <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Costa</strong> Os Olhos Sem Fronteiras.<br />

67 Vale. op.cit., p. 287-288.<br />

33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!