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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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Repare-se na casuali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos instantes do oferecimento <strong>da</strong>s jóias por<br />

Leopoldina, à cunha<strong>da</strong> Angélica. A ocasião é recor<strong>da</strong><strong>da</strong> por esta com singular<br />

emotivi<strong>da</strong><strong>de</strong> metafórica:<br />

Este colar e estes brincos… e este anel…e esta pulseira <strong>de</strong>u-me a<br />

mana Leopoldina na noite do casamento… Foi uma surpresa para mim. Até<br />

esse momento não me <strong>de</strong>ra na<strong>da</strong>. E quando eu julgava que ela na<strong>da</strong> mais me<br />

<strong>da</strong>ria para além <strong>da</strong>quele sorriso que me ficou na memória, frio, distante,<br />

convencional… trouxe-me estas jóias, como quem traz uma braça<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

flores brilhando nas mãos e disse-me… lembro-me tão bem… estou a vêla…:<br />

[…] «Guar<strong>de</strong>-as até à próxima geração, que… talvez não tar<strong>de</strong> em vir»<br />

(SFNC, p. 63-64).<br />

O momento tem o seu epílogo quando Matú coloca os brincos e o colar<br />

<strong>da</strong> tia, logo sisado pela chega<strong>da</strong> inespera<strong>da</strong> <strong>de</strong> Bostú. São as mesmas jóias que o<br />

Pai man<strong>da</strong>ra a mulher arranjar para levar na fuga, agora servem <strong>de</strong> acusação à sua<br />

consciência:<br />

BOSTÚ Se esta terra vai ser arrasa<strong>da</strong> <strong>de</strong> que vale tentar pôr a salvo a sua<br />

filha, <strong>de</strong> que vale juntar as jóias e fugir?... […] é só para iludir a sua<br />

consciência?... enganar a nossa?... (…) (SFNC, p.73).<br />

A recensão crítica <strong>de</strong> Filomena Vargas 126 à obra SFNC <strong>de</strong>marca três<br />

elementos essenciais na ficção influenciadores do estado <strong>de</strong> “opressão crescente”<br />

que, na nossa perspectiva sugam as personagens em conflito do plano emotivo<br />

para o racional: a ameaça, o pressentimento e a profecia.<br />

A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> goesa convivia pacificamente apesar <strong>da</strong>s diferenças<br />

religiosas. Existia um distanciamento social rastreado pelo po<strong>de</strong>r administrativo.<br />

As <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais entre colonizadores e colonizados partilhavam<br />

<strong>da</strong> mesma consoli<strong>da</strong>ção no que se cingia às relações <strong>de</strong> direitos e digni<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre<br />

homens e mulheres. O facto ficou superiormente anotado nas palavras <strong>de</strong> Joana<br />

126 Recensão crítica a 'Sem Flores Nem Coroas', <strong>de</strong> <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> / Maria Filomena Vargas. In:<br />

Revista Colóquio/Letras. Recensões Críticas, n.º 5, Jan. 1972, p. 89-90, disponível em<br />

http://coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/queryp.<br />

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