A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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para algumas com vista a conferir autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> para os múltiplos planos<br />
temporais.<br />
Roque Sebastião é o tio paterno <strong>de</strong> Manú Miran<strong>da</strong>, um homem <strong>de</strong> rotinas<br />
e <strong>de</strong>socupado. Antes <strong>de</strong> morrer fez do sobrinho o seu her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> uma casa “<strong>de</strong><br />
origem, mais tar<strong>de</strong> amplia<strong>da</strong> e modifica<strong>da</strong> com rara nobreza, remontaria, se não<br />
aos primórdios <strong>da</strong> al<strong>de</strong>ia principal”. Símbolo <strong>da</strong> presença portuguesa e do<br />
colonialismo, a casa precisava <strong>de</strong> sobreviver por isso o seu proprietário dizia:<br />
“Esta casa para sobreviver precisa aqui <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sol e <strong>de</strong> chuva e o vento que<br />
entre sempre que queira” (OUOMM, p. 45). Era na sua sala que se juntava aos<br />
amigos a jogar bridge e assinalava num mapa os movimentos militares. Num<br />
tempo em que eram poucos os rádios em Goa, o gãocar comprou um Telefunken<br />
que lhe permitia ouvir as notícias <strong>da</strong> BBC.<br />
Rosária, a velha aia apega<strong>da</strong> às tradições e costumes amaldiçoava o<br />
suicídio e a luxúria. Após a morte <strong>de</strong> Roque Sebastião e o casamento <strong>de</strong> Manú<br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> abandonar a casa. Nessa caminha<strong>da</strong> anteviu o seu enterro imaginando uma<br />
cova aberta on<strong>de</strong> repousavam, em vala comum, os restos mortais dos seus<br />
familiares contrastando com as campas <strong>de</strong> pedra, mármore e musgo, dos<br />
antecessores do seu senhor.<br />
Emílio Xavier, colega <strong>de</strong> quarto e confi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Manú enquanto<br />
frequentavam o sétimo ano, aceita representar o amigo na cerimónia matrimonial<br />
quando Manú casa por procuração. Durante a cerimónia ocupa o lugar do noivo.<br />
As alterações <strong>da</strong> narrativa sofrem duas categorias <strong>de</strong> motivação na<br />
diegese: a realista e a maravilhosa. A primeira está liga<strong>da</strong>, no romance em análise,<br />
ao “tempo público” <strong>da</strong> colonização e auto<strong>de</strong>terminação na Índia. A experiência<br />
usufruí<strong>da</strong> pelas personagens durante este “tempo público” conduz a estados<br />
psicológicos <strong>de</strong> ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> e crises <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> quando a personagem se<br />
estaciona no “seu tempo privado”. Na diegese “o tempo público” veiculado pelos<br />
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