A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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la corruption <strong>de</strong> la police peut prendre <strong>de</strong>s proportions beaucoup plus graves,<br />
allant jusqu’au rançonnement <strong>de</strong> la population. 106<br />
Em OSDI, o narrador já <strong>de</strong>nuncia o negócio ilícito entre Rumão e os<br />
sol<strong>da</strong>dos portugueses.<br />
Iria direito ao quartel e <strong>de</strong>nunciaria Rumão. Há muito que sabe que<br />
ele aju<strong>da</strong>va a escon<strong>de</strong>r na taberna, em garrafas <strong>de</strong> macheira e <strong>de</strong> fenim, a<br />
gasolina que o pacló lhe trazia. De ca<strong>da</strong> vez enchiam várias garrafas que,<br />
certamente, <strong>de</strong>pois eram vendi<strong>da</strong>s no mercado negro. […]<br />
Convencidos ambos <strong>de</strong> que ele estava bêbado e, a dormir, tinham<br />
enchido, na sua frente, algumas garrafas com a gasolina que o sol<strong>da</strong>do<br />
transportara no jipe (OSDI, pp.224-225).<br />
O mesmo aspecto volta a ser tema <strong>da</strong> narrativa, OUOMM, <strong>de</strong>nunciando o<br />
contrabando 107 <strong>de</strong> álcool, ouro e relógios que circulava no porto <strong>de</strong> Mormugão.<br />
Aproximando-se <strong>da</strong> metodologia romanesca <strong>de</strong> Proust, o escritor usa o narrador,<br />
para, pelo interior psicológico <strong>da</strong>s personagens tecer uma leitura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
goesa e <strong>da</strong> colónia britânica.<br />
Mas esta era a face clara do império britânico, que por muito que<br />
se quisesse não conseguia escon<strong>de</strong>r a outra, aquela que Manú Miran<strong>da</strong><br />
enfrentava com um inconfessável <strong>de</strong>sgosto e uma dolorosa intranquili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> consciência, uma face comovente e repugnante (OUOMM, p. 222).<br />
As personagens permanecem passivas, sem a necessária agitação ou<br />
estremecer que choque com as pré-formata<strong>da</strong>s convenções oci<strong>de</strong>ntais. O<br />
protagonista inclui-se no estatuto <strong>de</strong> heros médiocre, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong><br />
106 I<strong>de</strong>m, pp. 126-127.<br />
107 Bègue, op. cit. p.196.<br />
Baseado num relatório <strong>de</strong> um espião português em Goa, ANTT-AOS/CO/UL-10C: «Le<br />
contreban<strong>de</strong> et la corruption qui en découle apparaissent comme inévitable à Goa et s’inscrivent<br />
presque <strong>da</strong>ns les mœurs locales, tan tune économie parallèle <strong>de</strong>vient nécessaire à la survie <strong>de</strong><br />
l’Estado <strong>da</strong> Índia. […] Certains documents retrouvés font cepen<strong>da</strong>nt état d’un parcours<br />
commercial démarrant à Mexico:« The gold originates in Mexico from where it is sent to Portugal<br />
and to Goa. The smughers take the gold from Goa across the bor<strong>de</strong>r into India where it is turned<br />
over to Indian purchasers or their agents. Most of this gold is supposed o reach the Bombay bullon<br />
market».<br />
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