A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Obe<strong>de</strong>cendo a or<strong>de</strong>ns estritas do almirantado, o coman<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> nome Rofer,<br />
segundo foi mais tar<strong>de</strong> divulgado no noticiário dos jornais e <strong>da</strong> rádio, perante<br />
um inesperado ataque-surpresa <strong>de</strong> um comando inimigo, que navegou<br />
clan<strong>de</strong>stinamente pelo litoral sul, tomara a <strong>de</strong>cisão do seu afun<strong>da</strong>mento<br />
(OUOMM, p. 304). 116<br />
As duas centelhas, que mereceram nota no Preambulo do livro,<br />
perspectivam o final para o protagonista e para a sua terra.<br />
O ambiente colonial marcou <strong>de</strong>finitivamente <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong>, e O<br />
Ultimo Olhar <strong>de</strong> Manú Miran<strong>da</strong> reflecte to<strong>da</strong> a tensão psicológica e expectativas<br />
vivi<strong>da</strong>s por uma família brâmane no seu quotidiano. A História encontra nesta<br />
ficção verosímil, 117 memórias <strong>de</strong> muitos goeses e portugueses facultando uma<br />
reflexão sobre os últimos anos do colonialismo português em Goa.<br />
A projecção <strong>da</strong> literatura <strong>de</strong> <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> concepção<br />
aristotélica <strong>de</strong> catarse, cujo princípio enuncia que uma obra literária exce<strong>de</strong> a sua<br />
função lúdica e eva<strong>de</strong> outros os domínios, atesta a importância que Martinez<br />
Bonati atribui ao conteúdo <strong>da</strong>s obras literárias:<br />
As obras literárias, pois, <strong>de</strong>vem conter, substantivamente,<br />
“mensagens”sem circunstância nem oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> precisas, comunicações<br />
dirigi<strong>da</strong>s não provocar uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> e pronta reacção, mas talvez a<br />
alimentar a reflexão dos seres humanos sobre a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> permanente <strong>de</strong><br />
uma situação. 118<br />
116 <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> baseia-se em noticiários para afirmar que o afun<strong>da</strong>mento do navio foi<br />
<strong>de</strong>cidido pelo seu coman<strong>da</strong>nte. James Leasor sustenta a mesma teoria reprova<strong>da</strong> por José A.<br />
Barreiros: «Os ingleses, aliás, para que na<strong>da</strong> fosse <strong>de</strong>ixado ao caso, encarregaram-se <strong>de</strong> espalhar<br />
pela imprensa sob seu domínio a versão que lhes era conveniente, a que os punha acima <strong>de</strong><br />
qualquer suspeita e imputava aos alemães a autoria do acto.» (BARREIROS, 2001:95)<br />
117 Enten<strong>da</strong>mos verosímil <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> significação que a palavra tem actualmente, segundo Tzevetan<br />
Todorov: “(…) fala-se na verosimilhança <strong>de</strong> uma obra, na medi<strong>da</strong> em que ela tenta fazer-nos crer<br />
que se submete ao real e não às suas próprias leis; quer dizer, o verosímil é a mascara com que se<br />
dissimulam as leis do texto, e que nos <strong>da</strong>ria a impressão <strong>de</strong> uma relação com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />
(1971:97-98).<br />
118 F. Martinez Bonati, “Mensajes y literatura”, in M. A .Garrido Gallardo (ed.), Teoria semiótica:<br />
lenguajes y textos hispánicos, Madrid, C.S.I.C, 1984, p. 190.<br />
72