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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Com eleito, o “homem” <strong>de</strong> que nos fala <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> pertence a<br />

uma esfera histórico-social diferente do homem branco europeu, com as suas<br />

genuínas características biológicas.<br />

Leconte <strong>de</strong> Lisle, mestre poeta do palacianismo, sublinhou que “o<br />

primeiro cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong>quele que escreve em verso ou em prosa <strong>de</strong>ve ser pôr em<br />

relevo o lado pitoresco <strong>da</strong>s coisas exteriores”. 79 Com efeito, <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong><br />

<strong>de</strong>monstrou essa preocupação nas suas <strong>de</strong>scrições pictóricas e esmiuça<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

ambientes exteriores e interiores, pulverizando os espaços <strong>de</strong> compassados<br />

movimentos reveladores <strong>de</strong> uma calma cúmplice numa diegese que se prolonga<br />

por todo o período <strong>de</strong> uma vangana.<br />

È importante salientar em OSDI, a preocupação com o homem “ser<br />

humanizado” capaz <strong>de</strong> reencontrar um sentido para a vi<strong>da</strong>. O jipe dos sol<strong>da</strong>dos<br />

<strong>de</strong>ixa um ruído feroz, mas a voz ouvi<strong>da</strong> pelos curumbins é nova e vem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro<br />

dos seus casebres. È sem duvi<strong>da</strong> um sinal <strong>de</strong> esperança que o narrador testemunha<br />

no silêncio que volta ao povoado on<strong>de</strong> os corações começam novamente a pulsar.<br />

São por isso significativos os três últimos parágrafos <strong>da</strong> narrativa:<br />

Na estra<strong>da</strong>, envolto em nuvens vermelhas <strong>de</strong> pó passou a to<strong>da</strong> a<br />

veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> o primeiro jipe <strong>da</strong>quele dia, <strong>de</strong>ixando perdido no ar o ruído feroz<br />

do seu motor.<br />

Como se sentisse novamente o coração a pulsar, Gustin avançou<br />

pelo terreiro até ao seu casebre. Uma voz nova chorava lá <strong>de</strong>ntro.<br />

Diante <strong>da</strong> porta estacou, baixou - se para o chão e, apanhando com<br />

pie<strong>da</strong><strong>de</strong> um punhado <strong>de</strong> terra seca, esfarelou-a raivosamente com os <strong>de</strong>ntes<br />

(OSDI, p. 256).<br />

79 Segundo David Scott, Pictorialist poetics, Cambridge, 1988, p. 93. apud Aguiar e Silva (1991),<br />

p. 168.<br />

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