A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
po<strong>de</strong>rá embrenhar-nos por longas <strong>de</strong>finições mas no essencial a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
necessita do escritor porque ele é, como afirma Vimala Devi:<br />
(…) A consciência do seu tempo e <strong>da</strong>s circunstâncias históricas que o<br />
enformam, e a sua influência sobre os seus contemporâneos constitui uma<br />
<strong>da</strong>s formas mais po<strong>de</strong>rosas <strong>de</strong> aceleração histórica. O escritor isola, como<br />
um cientista os problemas individuais do seu tempo, e, pela sua atitu<strong>de</strong> para<br />
com eles – aprovando-os, reprovando-os, ou até ultrapassando-os –, <strong>de</strong>fine<br />
as várias probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> futuração do organismo social a que pertence. 46<br />
Os anos <strong>de</strong> 1945-46 revelam-se extremamente difíceis nas colónias<br />
britânicas mas também em Goa. As exportações e importações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do<br />
regime <strong>de</strong> cotas, sujeito a autorizações <strong>de</strong> complexa burocraci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O cônsul<br />
inglês em Goa é substituído por um vice-cônsul, um homem fechado e menos<br />
prestativo que o seu antecessor. To<strong>da</strong>s as colónias no oriente estão ameaça<strong>da</strong>s<br />
pela escassez <strong>de</strong> alimentos, medicamentos e outros bens essenciais. As receitas <strong>da</strong><br />
exportação <strong>de</strong> castanha <strong>de</strong> caju, ma<strong>de</strong>ira, coco e copra são <strong>de</strong>svia<strong>da</strong>s para pagar ao<br />
aparelho administrativo do estado e aos militares. É certo que o contrabando <strong>de</strong><br />
ouro em Goa estava a enriquecer alguns goeses e portugueses o que era uma<br />
preocupação para as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Bombaim, além do facto <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
portugueses serem suspeitas <strong>de</strong> beneficiar com esta activi<strong>da</strong><strong>de</strong>, embora o caso<br />
nunca tenha vindo a ser confirmado. 47<br />
A primeira meta<strong>de</strong> do século XX consolidou as dúvi<strong>da</strong>s entre os goeses, ou<br />
pelo menos na maioria, se o mo<strong>de</strong>lo português <strong>de</strong> colonialismo para Goa seria<br />
satisfatório para as elites goesas.<br />
46 Devi e Seabra, op. cit.,p. 132.<br />
47 Baseamo-nos nas <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> Sandrine Bègue, op. cit., pp. 195-196-197 que afirma, em<br />
relação ao Estado português: «Mais la part prise par le gouvernement portugais <strong>da</strong>ns ce commerce<br />
illicite reste difficile à prouver et semble minime. D’une manière générale, la contreban<strong>de</strong> ne<br />
parait profiter qu’à une partie <strong>de</strong>s Goanais et à une poignée <strong>de</strong> sol<strong>da</strong>ts <strong>de</strong>s <strong>de</strong>ux camps.» p.197.<br />
25