A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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As irmãs gémeas e a aia Rosária funcionam como oponentes críticos dos<br />
domínios psicológicos. O comportamento <strong>de</strong> Rosária oscila entre o paradoxo dos<br />
man<strong>da</strong>mentos cristãos e a superstição. A aia con<strong>de</strong>na a luxúria e o suicídio,<br />
acompanha to<strong>da</strong>s as fases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Manú Miran<strong>da</strong>, não resiste contudo a<br />
permanecer na mesma casa e assistir à <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção do protagonista.<br />
Amor e paixão, que Rosária, no entanto, sabia ser um fogo profano<br />
a ar<strong>de</strong>r na consciência <strong>de</strong> Manú Miran<strong>da</strong> e <strong>de</strong> que ela não concebia po<strong>de</strong>r ser<br />
<strong>de</strong> algum modo cúmplice, pois sabia que ele estava a <strong>de</strong>ixar per<strong>de</strong>r<br />
irremediavelmente a fé para ce<strong>de</strong>r aos prazeres <strong>da</strong> carne (OUOMM, pp.315 –<br />
316).<br />
Pressionado durante o seu crescimento pelos valores <strong>da</strong> história e <strong>da</strong><br />
religião Manú foi objecto <strong>da</strong>s sórdi<strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s suas tias gémeas que abraçam<br />
o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> verem o sobrinho entrar para o clero. O fanatismo religioso <strong>da</strong>s manas<br />
não evitou algumas hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre seguidores <strong>de</strong> outras crenças e foi levado ao<br />
extremo até ao final dos seus dias. Convictas do seu po<strong>de</strong>r em controlar o futuro<br />
do sobrinho fazem constar no seu testamento a intenção <strong>de</strong> fazerem do rapaz<br />
único her<strong>de</strong>iro:<br />
Consoli<strong>da</strong>do o valor dos dotes respectivos, ficara feita a promessa <strong>de</strong> aquele<br />
sobrinho receber por inteiro esse legado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, em nome <strong>da</strong> casti<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
ele se <strong>de</strong>cidisse pelo sacerdócio como vocação e, por aspiração e brio viesse a<br />
ser sagrado bispo (OUOMM, p. 57).<br />
A falta <strong>de</strong> vocação eclesiástica do jovem não <strong>de</strong>moveu as tias <strong>da</strong> firme<br />
<strong>de</strong>cisão em cumprirem a cláusula do testamento e <strong>de</strong>ser<strong>da</strong>rem-no.<br />
Despoja<strong>da</strong>s dos seus sonhos purpurados, as manas Inês e Leonor<br />
nunca perdoaram ao sobrinho aquele seu súbito e terminante abandono do<br />
seminário. [...] Vingativas, haveriam <strong>de</strong> morrer, sem que o rancor se fizesse<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente ódio e a única mal<strong>da</strong><strong>de</strong> que souberam praticar foi assumi<strong>da</strong><br />
no testamento (OUOMM, p. 103).<br />
O facto <strong>de</strong> ter sido retirado do testamento <strong>da</strong>s tias não prejudicou o rapaz,<br />
o seu futuro foi garantido pelo tio Roque Sebastião. Para além <strong>da</strong> herança material<br />
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