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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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A trilogia <strong>de</strong> <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> sobre Goa não carece <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontagens<br />

semiológicas profun<strong>da</strong>s pelo axiomático paralelismo com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

universo colonial português esforçado em manter no po<strong>de</strong>r institucional o<br />

epicentro. No Estado prevaleciam os interesses numa literatura <strong>de</strong> glorificação do<br />

passado que só po<strong>de</strong>ria conduzir a uma glorificação do futuro. Um estudo citado<br />

por Ellen Sapega 147 permite-nos concluir a presença do aliciamento <strong>da</strong> opinião<br />

pública pela cultura oficial.<br />

Não admitindo o Estado ousadias literárias que atentassem contra a<br />

cultura oficial instituí<strong>da</strong>, recorriam os escritores mais au<strong>da</strong>zes a implícitas<br />

perspectivas <strong>de</strong> consciencialização dos leitores. O passado histórico <strong>de</strong> Portugal<br />

extensivo às colónias portuguesas não encontra na obra <strong>de</strong> <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong><br />

valorização patrimonial altiva que impeça o relato <strong>de</strong> uma trajectória <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> dos autóctones compreen<strong>de</strong>ndo o seu discurso a <strong>de</strong>smontagem <strong>de</strong><br />

mitos, e pré interpretações.<br />

Mais que optimizar um <strong>de</strong>sfecho para a vacilante situação política <strong>de</strong><br />

Goa, o autor reclama do leitor/ espectador uma visão sistémica que o faça emergir<br />

<strong>da</strong> névoa sebastianina que o po<strong>de</strong>r alimenta.<br />

<strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> antecipa na trilogia em estudo a latente temática a que<br />

se refere Isabel Pires <strong>de</strong> Lima (1996:140):<br />

O ensaísmo mítico e o vastíssimo corpus ficcional posterior a 74,<br />

centrado na autognose nacional, são em gran<strong>de</strong> parte narrativas do “ser” <strong>da</strong><br />

pátria, narrativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, uma função <strong>de</strong> um passado e <strong>de</strong> um futuro<br />

míticos, narrativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadências e <strong>de</strong> renascença que, portanto, convivem<br />

problematicamente com o “estar” <strong>da</strong> pátria.»<br />

147 Ellen Sapega (1996:101) baseia-se no artigo <strong>de</strong> Ronald Sousa, (1985) «Literature and<br />

Portuguese Fascism. The face of the Salazarist State.Prece<strong>de</strong>d by Two Pre-Faces», in Hernând<br />

Vi<strong>da</strong>l (ed), Fascismo y experiencia literaria reflexiones para una recanonización, Minneapolis,<br />

Society for the study of Contemporary Hispanic and Lusophone Revolutionary Literatures, pp.95-<br />

141.<br />

97

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