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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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ao salão nobre do Palácio do Hi<strong>da</strong>lcão, sob o olhar distante e mortiço dos<br />

vetustos retratos dos Vice-Reis <strong>da</strong> Índia, um voto <strong>de</strong> sentimento em memória<br />

do insigne jornalista e ci<strong>da</strong>dão goês (OUOMM, 176).<br />

A associação do tempo e <strong>da</strong> história na diegese permanecem em flui<strong>da</strong><br />

anacronia nos momentos introspectivos <strong>da</strong>s personagens. As vozes, os discursos,<br />

os cânticos, ficam na memória mesmo quando os emissores não estão presentes,<br />

Aquilo que fica no receptor é o essencial, a mensagem, <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong> protesto ou <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>núncia.<br />

Lembrou-se que um dia Xricanta dissera, já não se lembrava se a<br />

propósito <strong>da</strong> morte do seu venerando avô, cujas cinzas haviam sido<br />

espalha<strong>da</strong>s ao largo <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> Colvá, ou se, por causa do jornal «Pracasha»,<br />

que tinha acabado <strong>de</strong> ser oficialmente suspenso: «não se po<strong>de</strong> Silenciar<br />

aquilo que um dia se fez ouvir» (OUOMM, p. 254).<br />

As alusões ao Aba<strong>de</strong> Faria realçam a notabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um goês que se<br />

<strong>de</strong>stacou no estudo dos fenómenos sonâmbulos. Note-se que o escritor não ficou<br />

indiferente à importância dos estudos do Aba<strong>de</strong> Faria, recorrendo à sua figura,<br />

assim como o fez Alexandre Dumas, para formar o personagem Padre Vicentinho.<br />

A influência <strong>da</strong> imagem do Aba<strong>de</strong> Faria era muito notória em Goa e o<br />

território homenageou-o em 1945 quando foi apresenta<strong>da</strong> uma escultura em<br />

bronze <strong>da</strong> autoria <strong>de</strong> Ramchandra Panduronga Kamat.<br />

Era uma prática que se tornara já tradicional, aquela celebração<br />

entre apenas quatorze famílias brâmenes vivendo na mesma rua dos<br />

Prazeres, que também nessa déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizações passou a chamar-se<br />

Rua Aba<strong>de</strong> Faria, em homenagem ao famoso conterrâneo que há muito que<br />

merecia uma condigna consagração <strong>da</strong> terra que o vira nascer. «Acabamos<br />

<strong>de</strong> cumprir um <strong>de</strong>ver que há muito todos os goeses esperavam!», dissera com<br />

soleni<strong>da</strong><strong>de</strong> o doutor Aniceto Condorcet Pereira no final do seu discurso na<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> Margão. «Uma iniciativa que honra sobremaneira<br />

todos os munícipes marganenses», escreveu o «Ultramar» <strong>de</strong> Bernardo<br />

Francisco <strong>da</strong> <strong>Costa</strong>, enquanto o «O Heraldo» <strong>de</strong> António Maria <strong>da</strong> Cunha<br />

exaltava o tom genuinamente patriótico <strong>da</strong>s palavras do doutor Condorcet na<br />

sua intervenção final <strong>da</strong> sessão <strong>da</strong> Câmara classificando-a <strong>de</strong> «o discurso <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong>!» (OUOMM, 120).<br />

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