A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta
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garrafas com a gasolina que o sol<strong>da</strong>do transportava no jipe (OSDI, pp. 225-<br />
226).<br />
As personagens que <strong>Orlando</strong> <strong>da</strong> <strong>Costa</strong> faz sobressair ascen<strong>de</strong>m, assim, a<br />
uma categoria <strong>de</strong> “personagens provocatórias” ou seja, <strong>de</strong>vido a situações futuras<br />
elas agitam as consciências para uma alienação que não se ousava assumir.<br />
Encontramos como exemplos <strong>de</strong>sse “tipo” <strong>de</strong> personagens além <strong>de</strong> Pedrú, a<br />
manducar Coinção pois encarna o arrojo e a revolta do povo <strong>da</strong> sua casta,<br />
capacita<strong>da</strong> para <strong>da</strong>r” a sua vi<strong>da</strong> para que a eles não faltasse <strong>de</strong> todo alguma coisa<br />
para comer durante aqueles meses”; a adolescente Natel, apaixona<strong>da</strong> por um<br />
sol<strong>da</strong>do expedicionário, <strong>de</strong>slumbra<strong>da</strong> entre a vai<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>seja<strong>da</strong> pelo<br />
manducar Bostião e as aparições do militar. Entre o sonho e a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, numa<br />
terra on<strong>de</strong> os casamentos se combinam entre os pais, a jovem sente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> tomar a <strong>de</strong>fesa do sol<strong>da</strong>do correndo o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar a sua paixão e quebrar<br />
o noivado.<br />
- Esse homem – disse ela – que eles apontam…vinha ao povoado por minha<br />
causa. Sim por minha causa […] Os seus soluços diminuíram, foram<br />
cessando, mas à sua volta, pairando naquele amanhecer tépido, os olhares<br />
ficaram-se <strong>de</strong>frontando numa estranha vigília <strong>de</strong> amor e ódio (OSDI, p. 248).<br />
O romance vai-se alimentando <strong>de</strong> pequenas histórias envolvendo<br />
paulatinamente to<strong>da</strong>s as personagens numa ca<strong>de</strong>ia sucessiva <strong>de</strong> situações<br />
polvilha<strong>da</strong>s pelo secretismo a que as conveniências obrigam. Ou seja, parte <strong>da</strong><br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas é conheci<strong>da</strong> por algumas personagens e, nessas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocultas<br />
emergem sentimentos <strong>de</strong> frustração, erro, opressão. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é friamente<br />
revela<strong>da</strong> tornando o presente mais sofrido Senão vejamos a relação dialéctica<br />
curumbins/ bab Ligôr: a vassalagem que os primeiros lhe prestam e a tirania<br />
repressiva do segundo, espelham a relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos seus comportamentos. A<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é friamente revela<strong>da</strong> tornando o presente mais sofrido. Diante <strong>de</strong> tanta<br />
miséria se os curumbins revelassem que Coinção aju<strong>da</strong>ra a retirar o arroz do<br />
celeiro a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> seria apenas pequenas emen<strong>da</strong>s que vinham do interior <strong>da</strong>s<br />
personagens sem dimensão prospectiva. A dor, a humilhação e a resignação dos<br />
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