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A Prosa Literária de Orlando da Costa - Universidade Aberta

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Portugal. Se é certo que esse processo <strong>de</strong> aprendizagem ocorreu em Portugal<br />

integrado num movimento neo-realista é <strong>de</strong> suma importância reter a sua condição<br />

<strong>de</strong> indo – português que lhe configura um lugar <strong>de</strong> singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> na literatura<br />

portuguesa e por subdivisão na literatura <strong>de</strong> temática colonialista.<br />

To<strong>da</strong> a construção e <strong>de</strong>senvolvimento do primeiro romance em análise<br />

patenteiam uma realização pictórica <strong>de</strong> um espaço como se o autor tingisse com<br />

palavras to<strong>da</strong> a ambiência ficciona<strong>da</strong>. O tempo <strong>da</strong> narrativa, pausado,<br />

<strong>de</strong>senrolando-se em ciclos sazonais envolve-se na <strong>de</strong>scrição dos espaços numa<br />

cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> arrebatadora com a dinâmica <strong>da</strong> acção. As personagens agem<br />

pausa<strong>da</strong>mente e os seus problemas são comuns a todos os do seu grupo social.<br />

Essa comunhão <strong>de</strong> vivências num sentimento <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> a que chamamos <strong>de</strong><br />

proletária insere-se numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> função i<strong>de</strong>ológica. Não existe um<br />

confronto i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong>clarado entre as personagens <strong>de</strong> OSDI e OUOMM,<br />

transparece sim na narrativa uma representação paralela do quotidiano dos lados<br />

opostos. As personagens centrais dos romances, citados não alcançam um estatuto<br />

interventivo <strong>de</strong>ntro do contexto sócio-politico. Apesar disso os seus<br />

comportamentos, reveladores <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que paralelamente se está a<br />

transformar, afiguram-se-nos como “instrumentos <strong>de</strong> compreensão<br />

transformadora do mundo circun<strong>da</strong>nte” (TORRES, 1967:46). Sendo assim OSDI<br />

implica-nos numa áurea <strong>de</strong> revolta intima, latente num meio social que inva<strong>de</strong> o<br />

leitor <strong>de</strong> compreensão e compaixão pelas personagens; em OUOMM as<br />

expectativas <strong>da</strong>s personagens, recalca<strong>da</strong>s pela irremediável passivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

mesmas, exigem ao narrador recorrer a outros elementos que lhes dêem mais<br />

amplitu<strong>de</strong>. O jornal passa então a ser o é germe <strong>da</strong> consciencialização <strong>da</strong>s massas<br />

e simultaneamente instrumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>núncia.<br />

Estes aspectos confluem com uma <strong>da</strong>s funções <strong>da</strong> comunicação literária<br />

do Neo-Realismo, conceber a obra literária com o intuito <strong>de</strong> sensibilizar e<br />

consciencializar um “<strong>de</strong>stinatário massificado”. 142 Veja-se que os romances OSDI<br />

142 I<strong>de</strong>m. p. 205.<br />

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