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APROPRIAÇÃO DE TEXTO: Um Jogo de Imagens - ECA-USP

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111estrutura dramática articula diferentes narrativas (*). Desenhamos aquela poron<strong>de</strong> passa nossa fala e que implica o sentido <strong>de</strong> nossa construção.Cada narrativa parece ter alguma coisa <strong>de</strong>mais, um esce<strong>de</strong>nte, umsuplemento, que fica fora da forma fechada produzida por seu<strong>de</strong>senrolar. (...) esse algo mais próprio da narrativa é também algomenos; o suplemento é também uma falta; para suprir a falta criadapelo suplemento, uma outra narrativa se faz necessária. (1)Haverá sempre a perspectiva <strong>de</strong> novas combinações: ¨A vertigemdas narrativas se torna angustiante; e nada escapa mais ao mundo narrativo,recobrindo o conjunto da experiência¨ (i<strong>de</strong>m: 126); ¨(...) e não há nenhumarazão para que isso pare em algum ponto (...) sempre haverá um suplementoque espera uma narrativa futura¨ (i<strong>de</strong>m: 131)._____________________1. TODOROV, Tristan. As Estruturas Narrativas, São Paulo: Perspectiva, 2003, pg. 131.(*) A questão do texto dramático articular diferentes enca<strong>de</strong>amentos narrativos foi exploradapor Anne Ubersfeld. Segundo ela esta é uma questão implicada na própria estrutura do texto,que é ¨actancial¨. A estrutura actancial possui seis casas: sujeito e objeto (que formam o eixoda narrativa), e mais quatro: adjuvante (que ajuda a ação), oponente (que atrapalha a ação),<strong>de</strong>stinatário (para quem a ação é dirigida, que se beneficia da ação) e <strong>de</strong>stinador (quemor<strong>de</strong>na a ação). De maneira que a relação direta ¨sujeito-objeto¨ se per<strong>de</strong>. Os elementos que¨ocupam¨ as seis casas (os seis ¨lugares¨ da estrutura actancial), são chamados ¨actantes¨,e po<strong>de</strong>m ser tanto um ¨nome próprio¨ (Merteuil) quanto um elemento abstrato (¨o rancor <strong>de</strong>Merteuil¨, por exemplo, enquanto ¨seu amor por Valmont¨ ocupa outra casa). Neste sentido,a ¨personagem¨ é ¨espatifada¨, ¨explodida¨. Não é possível que se configure como indivíduoautônomo. A idéia <strong>de</strong> que ¨uma pessoa age¨ é apenas referencial (o que ela chama <strong>de</strong>¨ilusão referencial necessária¨). Segundo Ubersfeld, ao longo da estrutura dramática, osactantes se revesam na estrutura, mudam <strong>de</strong> lugar, compondo combinações actanciaisdiferentes (o que ela chama <strong>de</strong> ¨mo<strong>de</strong>los actanciais¨), <strong>de</strong> maneira que muitas narrativas sãoengendradas, se revesam e se recombinam em um mesmo texto dramático, o que <strong>de</strong>notacomplexida<strong>de</strong>. A ênfase dada a uma ou a outra narrativa é uma questão que permeia aencenação e implica o investimento <strong>de</strong> uma ¨fala¨ (<strong>de</strong>sejo), bem como condições <strong>de</strong>enunciação especiais <strong>de</strong> cada processo (Ver UBERSFELD, Para Ler o Teatro. São Paulo:Perspectiva, 2005). A instância ¨personagem¨ foi construída, mo<strong>de</strong>lada, forjada <strong>de</strong> diversasmaneiras na história do teatro: ¨Força passional em Shakespeare, teve dificulda<strong>de</strong> paraconstituir-se indivíduo livre e autônomo. Na era clássica francesa, curva-se `as exigênciasabstratas <strong>de</strong> uma ação universal ou exemplar, sem possuir os caracteres <strong>de</strong> um tipo social<strong>de</strong>finido (…) Com DI<strong>DE</strong>ROT e seu drama burguês a personagem passa a ser uma condição(…) calcada no real, evolue até o naturalismo e os primórdios da encenação. Nessemomento, a tendência se inverte e a personagem ten<strong>de</strong> a dissolver-se no drama simbolista,no qual o universo é povoado apenas por sombras, cores e sons que se correspon<strong>de</strong>m(MAETERLINCK, STRINDBERG, CLAU<strong>DE</strong>L). A seguir, se estilhaça na dramaturgia épicados expressionistas e <strong>de</strong> BRECHT: esta <strong>de</strong>smontagem da personagem, totalmente entregue`as necessida<strong>de</strong>s da fábula, da historicização e da <strong>de</strong>sconstrução do real a ser criticado,marca o remate <strong>de</strong> sua ¨encenação¨. O início <strong>de</strong> certo recentramento faz-se sentir com apersonagem surrealista, on<strong>de</strong> sonho e realida<strong>de</strong> se entremesclam, a personagem autoreflexiva(PIRAN<strong>DE</strong>LLO, GENET) na qual os níveis <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> se embaralham nos jogos<strong>de</strong> teatro <strong>de</strong>ntro do teatro e <strong>de</strong> personagem <strong>de</strong>ntro da personagem (PAVIS, i<strong>de</strong>m: 285-286).

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