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APROPRIAÇÃO DE TEXTO: Um Jogo de Imagens - ECA-USP

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126¨contexto¨. Ele cita o exemplo do suicídio <strong>de</strong> Anna Karenina (Tólstói seconcentra na bolsa da heroína) e Guerra e Paz (as <strong>de</strong>scrições do lábiosuperior e os ombros nús) (*). O uso da metonímia em <strong>de</strong>trimento dametáfora implica, para Jakbson, um cinema e uma literatura <strong>de</strong> tendênciarealista.No que diz respeito ao trabalho do ator e a inscrição do seu corpoem cena, o ¨<strong>de</strong>talhe¨ po<strong>de</strong> ser problematizado. Ao realizar pesquisa comtexto <strong>de</strong> Maeterlinck, Stanislavski inscreve o registro cotidiano sem implicar oRealismo (*). Isto nos faz pensar que instâncias específicas da encenaçãoimplicam, para o ator, o manejo <strong>de</strong> elementos específicos na subpartitura. Ainscrição <strong>de</strong> comportamentos cotidianos, por exemplo, po<strong>de</strong> não estarveiculada `a estética realista, assim como é possível um corpo híbrido. Istonos faz pensar que a exigência <strong>de</strong> uma inscrição da personagem, da idéia <strong>de</strong>realida<strong>de</strong>, da idéia <strong>de</strong> cotidiano, espontaneida<strong>de</strong>, crítica, etc, implicamelementos distintos para um jogo <strong>de</strong> composição da subpartitura. O quequero dizer é que percebo um campo <strong>de</strong> pesquisa com a subpartitura que<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da composição, da combinação e oposição <strong>de</strong> elementos. Gostaria<strong>de</strong> finalizar com isto: a perspectiva da inscrição cênica <strong>de</strong> um corpo a partir_______________________(*) JAKOBSON, Roman. Lingüística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 19-?, pg. 57.(**) O termo realismo assumiu na filosofia sentidos bastante diversos (ver ABBAGNANO,Nicola. Dicionário <strong>de</strong> Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 2007). Na literatura, <strong>de</strong>signa omovimento que surge, no século XIX, em reação ao Romantismo (com a publicação <strong>de</strong>Madame Bovary, <strong>de</strong> Gustave Flaubert em 1957). A proposta era retratar a ¨realida<strong>de</strong>¨, as¨pessoas¨ (substituindo, então, a subjetivida<strong>de</strong> romântica por uma visão fiel e objetiva domundo). No teatro o termo assume particularida<strong>de</strong>s. Segundo Pavis, ¨o realismo nem semprese distingue com clareza da ilusão ou do naturalismo. Esses rótulos têm em comum avonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> duplicar a realida<strong>de</strong> através da cena, imitá-la da maneira mais fiel possível. Omeio cênico é reconstituído <strong>de</strong> modo a enganar sobre sua realida<strong>de</strong>. Os diálogos se inspiramnos discursos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada época ou classe socioprofissional. O jogo do ator torna o textonatural ao máximo, reduzindo os efeitos literários e retóricos pela ênfase na espontaneida<strong>de</strong>e na psicologia. Assim, paradoxalmente, para fazer verda<strong>de</strong>iro o real, é necessário sabermanipular o artifício: ˙Fazer verda<strong>de</strong>iro consiste, portanto, em dar a ilusão completa doverda<strong>de</strong>iro (…). Daí concluo que os realistas <strong>de</strong> talento <strong>de</strong>veriam se chamar, maispropriamente, ilusionistas˙ (MAUPASSANT)¨ (PAVIS, i<strong>de</strong>m: 325-226).

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