APROPRIAÃÃO DE TEXTO: Um Jogo de Imagens - ECA-USP
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44EM SEGUIDA SÃO INTEGRADOS `A IMAGEM DO ENCA<strong>DE</strong>AMENTO DO TRECHO TODO1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 +7 + 8 + 9 + 10 + 11Valmont. Eu dava por acabada sua paixão por mim. Qual a origem <strong>de</strong>ste repentino recru<strong>de</strong>scer? Ecom tanta força juvenil! Tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais, porém. Não conseguirá mais inflamar meu coração. Nem maisuma vez. Nunca mais. Não lhe digo isso sem pesar, Valmont. Mesmo assim houve minutos, talvez<strong>de</strong>vesse dizer momentos. <strong>Um</strong> minuto, isso é uma eternida<strong>de</strong> em que me senti feliz, graças a suacompanhia. Estou falando <strong>de</strong> mim, Valmont. O que sei <strong>de</strong> seus sentimentos? E talvez fosse melhorfalar <strong>de</strong> minutos nos quais pu<strong>de</strong> usá-lo. Isto é, a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com a minha fisiologia, <strong>de</strong>sentir alguma coisa que na memória, parece-me um sentimento <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Não esqueceu comotratar esta máquina. Não retira sua mão. Não que eu sinta alguma coisa por você. É minha pele que selembra. Ou talvez seja a sua, estou falando da minha pele, Valmont, e simplesmente tanto faz para ela<strong>de</strong> que modo, em que animal está fixado o instrumento <strong>de</strong> sua volúpia, mão ou garra? Quando fechoos olhos, você é bonito, Valmont. Ou corcunda, se eu <strong>de</strong>sejar. O privilégio dos cegos. Você tem maissorte no amor. A comédia dos sintomas lhe é poupada: você vê o que quer ver. O i<strong>de</strong>al seria ser cegoe surdo-mudo. A paixão das rochas. Eu te assustei, Valmont? Como você é fácil <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanimar. Não oconhecia assim. As damas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mim lhe <strong>de</strong>ixaram mágoas? Lágrimas? Será que você temcoração, Valmont? Des<strong>de</strong> quando? Ou será que sua virilida<strong>de</strong> estragou com minhas sucessoras? Seuhálito tem sabor <strong>de</strong> solidão. A sucessora <strong>de</strong> minha sucessora te mandou passear? O amanteabandonado. Não. Não retire sua terna oferta, meu senhor. Eu cumpro. Eu cumpro, em todo caso. Nãohá sentimentos para temer. Por que <strong>de</strong>veria te odiar? Nunca te amei... Rocemos nossas peles uma naoutra. Ah, a escravidão dos corpos! O martírio <strong>de</strong> viver e não ser Deus. Ter uma consciência e nenhumpo<strong>de</strong>r sobre a matéria. Não se precipite, Valmont. Assim está bem. Sim, sim, sim, sim. Isto foi bemencenado, não? O prazer do meu corpo não me interessa, não sou nenhuma criada <strong>de</strong> estábulo. Meucérebro trabalha normalmente. Estou completamente fria, Valmont. Minha vida, minha morte, meuamado.1.2.2. Tensão e RelaxamentoNa ¨tentativa da escrita memorizada¨ a regra é escrever sem olhar.O que se faz quando a memória não vem? Se improvisa. Em meio aossussessivos esquecimentos e produção imagética, há um esforço contínuo