19714 Sexta-feira 17 DlÁ~IO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Setembro de 1993do País inteiro para dizer que o Nordeste era o responsávelpelo pouco desenvolvimento do Rio Grande do Su\. Ora,o Rio Grande é um <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> do País cuja população apresentaos melhores índices de qualidade de vida. E S.Ex' aindase atreve a responsabilizar o Nordeste pelo "pouco" desenvolvimentodo Rio Grande do Sul! O Rio Grande não tem razãonessa crítica que fez ao Nordeste. Não somos responsáveispelas dificuldades do Rio Grande do Sul. As outras regiõesé que, numa política deliberada, querem nos impor um complexode inferioridade, fazer com que nos sintamos inferioresem relação à nossa capacidade.O Nordeste precisa receber o tratamento que o Sul recebeu.Investimentos públicos podem tornar nossa Região tãopróspera quanto as mais prósperas do mundo. Dis-se queo Nordeste poderia ser a Califórnia. Sim, poderia ser, desdeque tivesse os investimentos que teve o Centro-su\.Essa realidade nos conduz a uma posição muito maisafirmativa. Hoje temos a emergência da seca, fazendo nossapopulação sofrer muito. No entanto, mais sério do que aseca é o período pós-seca, e precisamos exigir que o Paísfaça pela região o que deve ser feito, ou seja, investimentospúblicos federais que possibilitem a criação de pólos de irrigaçãocapazes de sustentar a economia agrícola do interior doNordeste e implantar indústrias nas Capitais e nas cidadesmais desenvolvidas.O Sr. Francisco Urbano, que estava aqui há pouco, citouo caso na Sudene. A Sudene foi criada para transformar aeconomia nordestina, mas isso não ocorreu: ela consagroua economia lá existente, a economia da minoria, que deixaa maioria da população marginalizada.Conhecemos bem o Nordeste, as cidades do interior. Sabemosda miséria e da pobreza existentes naquela região.E a situação não mudou, porque não houve investimentosnesse sentido. Os próprios órgãos federais deveriam ter feitoisso e não fizéram, não cumpriram o seu papel.A nossa luta deve prosseguir após a seca. Devemos construiruma economia mais justa e equilibrada no País. Qualquerexame que se faça revelará que o Nordeste apresenta umae~orme inferioridade ~o que diz respeito a investimentos púbhcosfederais. Em conseqüência, a sua capacidade de gerarriquezas, de gerar bem-estar para o seu povo é insuficiente.Essa situação tem de ser corrigida, e vamos lutar porisso. Constituímos a Comissão de Desigualdades Inter-Regionais,que vai oferecer sugestões a respeito do que se podefazer nos perío<strong>dos</strong> normais, de tal forma que o Nordeste possadesfrutar os investimentos federais necessários ao desenvolvimentode sua economia: (Palmas.)O SR. PRESIDENTE (Deputado Wilson Campos) Concedo a palavra ao nobre Deputado Tourinho Dantas.O SR. DEPUTADO TOURINHO DANTAS - Sr.Presidente,Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, Srs. Prefeitos, em primeirolugar, quero justificar a ausência, neste pelnário, do DeputadoManoel Castro - S.Ex· foi internado hoje pela manhã, aquiem Brasília, com fortes dores na coluna -, bem como <strong>dos</strong>Deputa<strong>dos</strong> Luís Eduardo, Benito Gama e Eraldo Tinoco,que estão participando de uma reunião do PFL em SantaCatarina.Sr. Presidente, tudo sobre a seca já foi dito aqui. Queroapenas relatar uma viagem que fiz ao Nordeste nesta últimasemana, passando por Cícero Dáritas, Jeremoabo e Ibó, noVale do São Francisco. Vi, de um lado, a represa de Itaparica,com muita água, e, de outro, pessoas morrendo de sede ede fome à beira do rio. Não existe, por parte do GovernoItamar Franco, nem existiu, por parte <strong>dos</strong> Governos que oantecederam, qualquer projeto objetivo de irrigação daquelaárea. A Chesf.implantou as agrovilas, mas a água nunca,
Setembro de 1993 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Sexta-feira 17 19715. !nicialm~n~e tem a l?alavra o Deputado Tony Gel, a quemSOlicIto que limIte seu dIscurso a dois minutos e meio.O SR. DEPUTADO TONY GEL - Sr. Presidente, Srs.Componentes da Mesa, Srs. Prefeitos, companheiros deputa<strong>dos</strong>,.sou um Parlamentar nordestino que tem concentradopratIcamente todas suas forças, no Congresso Nacional, nabusca de soluções para os cruciais problemas pelos quais tempassado o povo do Nordeste, especialmente os provoca<strong>dos</strong>pelas estiagens prolongadàs.Evidentemente, tenho contado com o apoio de algunshomens da República. Cito, como exemplo, o Secretário deIrrigação, a ex-Deputado e ex-Governador de PernambucoDr. Carlos Wilson, que muito nos tem ajudado, porque conhecea realidade nordestina.Tenho contado também com companheiros nordestinos,que têm apoiado nossos projetos no campo da açudagem.Sou de Caruaru, progressista cidade do interor de Pernambuco,região que aparentemente não sente o problemada seca, mas que, na realidade, está prestes a sofrer um colapsono abastecimento de água. Estamos lutando - e temos contadocom o apoio de companheiros da bancada - pela construçãode uma barragem que pode acumular até 360 milhõesde metros cúbicos de água e abastecer Caruaru e outras regiões,podendo beneficiar até o Recife.. Alguns cientistas têm se referido ao Polígono da SecadIzendo que o problema não é tão grave quanto nós, Parlamentares,e os nordestinos dizemos ser. Esses cientistas ouviramo galo cantar e não sabem onde. Quem conhece a realidadeda seca é quem vive lá na Região Nordeste.Vou todas as semanas ao interior de Pernamhuco. Passotrês, quatro dias da semana em Brasília e os demais diaslá, em minha Região. Conheço a realidade nordestina. Masnão vou alongar este assunto. Apenas citarei uma poesia escritapor Zé Dantas, transformada em música gravada por LuizGonzaga, que há cerca de quarenta anos já havia feito aradiografia da seca, chamando a atenção <strong>dos</strong> nossos governantespara as providências que precisavam tomar. Já àquelaépoca ensinava os nordestinos como resolver o problema daseca, como conviver com ela.Diz Zé Dantas, em "Vozes da Seca", gravação de LuizGonzaga:I ."Seu "dotô", os nordestinosTêm muita gratidão,Pelo auxílio <strong>dos</strong> sulistasNesta seca do Sertão,Mas "Dotô" uma esmola a um homem que é são,Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.11É por isso que pedimosProteção a Vois-MercêHomem por nós escolhidoPara as rédeas do PoderPois "dotô" <strong>dos</strong> 20 Esta<strong>dos</strong>,Temos 8 sem chover,Veja bem quase a metade do Brasil tá sem comer.IIIDê serviço ao nosso povoEncha os rios de barragem,Dê comida a preço bom,Não esqueça a açudagemLivre assim nós dá esmola,Que no fim dessa ESTIAGEM;Lhe pagamos inté os juros sem gastar nossa coragem.Se o "dotô" fizer assimSalva o povo do Sertão,Quando um dia a chuva "vim",Que riqueza pra Nação,Nunca mais nós pensa em secaVai dar tudo neste chãoComo vê nossos destinos,Mercê tem na Vossa mão."E não resolvem o nosso problema porque não querem,por que falta vontade política.Agradeço ao Presidente, Deputado Wilson Campos, sensívelà realidade nordestina, um companheiro extraordináriono dia-a-dia desta Casa. Agradeço ao companheiro Vital doRêgo, outro bravo nordestino que luta pelos nossos interesses,que me cedeu a sua vez na tribuna. (Palmas.)OSR. PRESIDENTE (Deputado Wilson Campos) -a palavra o Deputado Vital do Rêgo.IVTemO SR. DEPUTADO VITAL DO RÊGO - Sr. Presidente,ilustres autoridades, Srs. Prefeitos nordestinos, eminentes colegasDeputa<strong>dos</strong>, estou policiado por um tempo que é bemmenor do que a imensa angústia do povo nordestino desteBrasil.Escutei a síntese do discurso do Deputado Tony Gel,o que bastaria a surpreender a vocação de um pronunciamento,mesmo nesta hora em que já se percebe o desinteressede certos segmentos aqui presentes pelos pronunciamentosque hão de ser feitos por mim, pelo Deputado Luiz Girãoe, finalmente, pelo Deputado Wilson Campos, que encerraráesta sessão.Efetivamente, o fotógrafo já distribui as fotografias recolhidascomo documento das presenças <strong>dos</strong> Srs. Prefeitos nesteplenário, e nós vamos falando algo que queremos que V.Ex\Srs. Prefeitos, levem para seus municípios; esta Casa, queé o ápice da pirâmide do Estado democrático e social deDireito, é uma Casa política, onde as idéias se conflitam eonde temos, pela graça de Deus e pela vontade da inteligência,de operar o milagre da homogeneização de quantidades heterogêneas..Só uma coisa, Srs. Prefeitos, não está fácil de fazer: esquecerque vivemos constantemente, desde que o Brasil foi descoberto,desde a velha Inspetoria Federal de Obras Contta asSecas, desde a República Velha a pedir e a mendigar a compreensão<strong>dos</strong> Governos para uma situação que se resumenum fato absolutamente elementar: o nordestino não pedeesmola. E nas fases mais difíceis de sua vida foi levado poruma politicagem de humilhação, a título de "frentes de emergência",distribuição de cestas básicas, abatura de serviçosimprovisa<strong>dos</strong>, feitura de bal<strong>dos</strong> de açude que não resistemà carreira do P!imeiro regato.Mas,Srs. Prefeitos, nós somos daqueles ql.!e temos umahistória. Se hoje temos a Ministro Alexandre Costa e, a secundá-lo,'0 braço forte e jovem do Secretário Carlos Wilson,temos um passado que não pode ser desmentido, temos ahistória de um organismo criado para superintender os interessesdo Nordeste e que foi transformado, de repente, num