19750 Sexta-feira 17 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Setembro de 1993"brincar" com o ser humano. Isto, infelizmente, é o que vemacontecendo.Era o que tinha a dizer.O Sr. Paulo Ramos -pela ordem.Com a permisO SR. PRESIDENTE (Adylson Motta) -são do orador, concedo a palavra a V. Ex'Sr. Presidente, peço a palavraO SR. PAULO RAMOS (PDT - RJ. Sem revisão doorador.) - Sr. Presidente, vários Parlamentares do PDT edo PT estão dispostos a não apreciar a Ordem do Dia, namedida em que não há painel, não há quorum. .Consulto V. Ex' se é possível não colocar a Ordem doDia em votação, para que os Srs. Parlamentares possam serlibera<strong>dos</strong>.Esta é a solicitação que faço a V. Ex'O SR. PRESIDENTE (Adylson Motta) - Há registrode presença na Casa de aproximadamente 300 Srs. Deputa<strong>dos</strong>.O painel não foi aberto porque não há obrigatoriedade defazê-lo antes da Ordem do Dia. Mas se algum Deputado solicitara verificação de quorum, evidentemente que o painel seráaberto. Está prevista a Ordem do Dia, e a Presidência teráde cumpri-la.O Sr. Vladimir Palmeira -pela ordem.Sr. Presidente, peço a palavraO SR. PRESIDENTE (Adylson Motta) -;rem V. Ex'a palavra.O SR. VLADIMIR PALMEIRA (PT - RI. Sem revisãodo orador.) - ·Sr. Presidente, nossa objeção é no sentidode que se queira iniciar a Ordem do Dia sem abrir o painel.Não aceitamos isso, porque há número regimental para abrilo.Achamos isso um absurdo.Portanto, ou se abre o painel-e aíveremos se há númeroou não-, ou não se tem Ordem do Dia. A postura adotadaé incompatível com o decoro desta Casa.O SR. PRESIDENTE (Adylson Motta) - Por ocasiãoda Ordem do Dia será cumprido o Regimento Interno e abertoo painel.Não há necessidade de quorum, de maioria absoluta parao início e o prosseguimento da sessão, exceto para as deliberaçõesda Ordem do Dia.Há quorum regimental. Continua a sessão.O SR. PRESIDENTE (Adylson Motta) -v- GRANDE EXPEDIENTETem.a palavra o Sr. Nobel Moura.Passa-se aoO SR. NOBEL MOURA (PP - RO. Sem revisão doorador.) - Sr. Presidente, Sra' e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o motivoque me traz a este Grande Expediente é o tema palpitantedo momento: a violência no País.Inicialmente, quero chamar a atenção <strong>dos</strong> Srs. Deputa<strong>dos</strong>para o fato de que em Rondônia., no dia 28 do mês passado,foi assassinada uma criança de quatorze anos dentro do Paláciodo Governo.A criança, assustada após assistir a um tumulto de rua,refugiou-se no Palácio do Governo, em Porto Velho. E pasmem, Srs. Deputa<strong>dos</strong> - dentro do Palácio do Governoo menor Genilson Dias da Silva foi espancado barbaramente,sofrendo lesões em todo o corpo, inclusive nos testículos.Ao final da tortura, o policial da "guarda" pretorianado Governo Oswaldo Piana desfechou o tiro de misericórdiano ouvivo do menor, perfurando-lhe o crânio.Que País é este, Srs. Deputa<strong>dos</strong>, em que a instituição,o Estado, a Polícia Militar, a Polícia Civil, a Polícia Federalse prestam a eliminarbrasileiros, torturá-los, ao invés de protegê-los?Srs. Deputa<strong>dos</strong>, a escalada da violência no País, acompanhadade crimes que chocam a Nação, expõe o Brasil...O Sr. Mauricio Calixto - Nobre Deputado Nobel Moura,permite-me V. Ex' um aparte?O SR. NOBEL MOURA -Maurício Calixto.Pois não, nobre DeputadoO Sr. Mauricio Calixto-Nobre Deputado Nobel Moura,V. Ex' se reporta a um lamentável crime acontecido no Estadode Rondônia, em pleno Palácio Presidente Vargas, onde aPolícia Militar fuzilou, inapelavelmente, uma criança, um meninode 14 anos de idade, estudante do Colégio Rio Branco,na Capital do Estado, e que hoje ainda cala fundo no sentimentode revolta da população do Estado de Rondônia. V.Ex' relembra o episódio de forma pertinente. Já fiz algunspronunciamentos a respeito desse assunto. Já faz três domingosque esse crime aconteceu e culminou com a revolta detoda a população, que está a exigir do Governo do Estado,pelo menos uma reparação cível. Devo dizer a V. Ex' quetão ou mais grave do que tudo isso que V. Ex' denunciaa esta Casa foi o ato irresponsável e inconseqüente do Governodo Estado de Rondônia, que, na segunda-feira, após a mortedesse estudante, foi a público com uma nota à imprensa,divulgando que o menor teria sido morto num acidente; eaté aventou a hipótese de ele ter cometido suicídio, quandoto<strong>dos</strong> nós sabemos, como a sociedade toda sabe em Rondônia,que a OAB averiguou as investigações, comprovando quehouve tortura. O garoto foi trucidado e fuzilado inapelavelmente!Aplaudo V. Ex' por trazer este assunto, por fazeresta importante denúncia contra õ Governo do Estado deRondônia na Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>.O SR. NOBEL MOURA - Obrigado, Deputado MaurícioCalixto.Srs. Deputa<strong>dos</strong>, o Estado de Rondônia parece que jáinstituiu como tática de campanha a eliminação física <strong>dos</strong>adversários. Foi aprovada aqui, nesta semana, a Lei Eleitoral.Não seria necessário acrescentar o óbvio: "não se pode mataro adversário"; mas em Rondônia to<strong>dos</strong> os políticos, hoje,temem ser candidatos, depois do assassinato bárbaro do SenadorOlavo Pires, que, eleito no primeiro turno, tombou àporta da sua empresa, quando se preparava para enfrentaro segundo turno.Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é necessário uma reflexão sobre os doisturnos, porque em Estado como Rondônia é'perigoso o candidatomajoritário partir para o segundo turno, como OlavoPires. Após o assassinado de Olavo Pires, vários políticosforam mortos no Estado. Assassinaram o Vereador Jasmo,do PT, Presidente da Câmara <strong>dos</strong> Vereadores de Ouro Preto,uma das maiores cidades de Rondônia, na eleição passada;foi também assassinado em Jaru, outra cidade importantede Rondônia, o advogado Apancio Paixão, defensor de causaspolíticas; foram assassina<strong>dos</strong> um vereador de Rolim de Moura,também uma das maiores cidades de Rondônia, e mais outrovereador, após a morte de Olavo Pires.
Setembro de 1993 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Sexta-feira 17 19751Srs. Deputa<strong>dos</strong>, uma vez que o assassino ou os assassinosde Olavo Pires, ou os mandantes daquele bárbaro crime nãoforam puni<strong>dos</strong>, criou-se um caldo de cultura para que a violênciase perpetue no Estado de Rondônia, principalmente nomeio político.Considero um <strong>dos</strong> crimes mais hedion<strong>dos</strong> o assassinato,em Porto Velho, daquela criança de 14 anos. Visitei seu painesta semana, e ele me falou sobre o filho; era "rria criançanormal, menino de 14 anos que aparentava dez, tão mirradoque era, tão pequeno!Como é que a Polícia Militar de Rondônia tem a coragemde veicular a hipótese de um acidente com aquele revólver;numa luta corporal - que não existiu! - o menino teriasido vítima de um acidente...Srs. Deputa<strong>dos</strong>, pior foi a chacina da Candelária, noRio de Janeiro. Lá estava, na ocasião, e vi os corpos dascrianças assassinadas. Igual crueldade ocorreu em Vigário GeraI.Mas, em ambas as chacinas, aqueles policiais tiverama precaução de se disfarçar de bandi<strong>dos</strong> encapuza<strong>dos</strong>. EmRondônia, não! Os bandi<strong>dos</strong> se vestem de policiais militares.Que instituição é essa?Quais são as causas da violência no País? Quais são ascausas da formação de gangues de rua?O Sr. João de Deus Antunes - Permite-me V. Ex~ umaparte?O SR. NOBEL MOURA -Com prazer, Excelência.O Sr. João de Deus Antunes - Nobre Deputado NobelMoura, estamos vendo que há violência generalizada no País.Em to<strong>dos</strong> os quadrantes desta Nação temos encontrado violência.Tal fato é reflexo da impunidade, da ausência de leis,da falta de autoridade. Enquanto não houver uma autoridadecapaz de combater esse tipo de coisa, continuaremos a convivercom esse estado de calamidade instalado em todo o País.Hoje recebi do nobre Deputado Robson Tuma um convitepara participar de um encontro sobre seguFança pública existe uma CPI sobre segurança pública nesta Casa. Por solicitaçãoda Confederação <strong>dos</strong> Delega<strong>dos</strong> de Polícia do Brasil,assinei um requerimento pedindo a instalação de uma CPIsobre a Polícia no Brasil, que está tramitando - era parajá ter sido instIada a CPI, mas, por artifícios, o requerimentofoi levado para as comissões. Queremos que esses bandi<strong>dos</strong>travesti<strong>dos</strong> de policiais recebam aquilo que merecem; nãoé possível que os nossos filhos e familiares fiquem à mercêdesse tipo de gente. É uma grande teia de aranha que seinstalou no País e não podemos mais confiar naqueles quesão pagos para nos dar segurança. E digo isso com isenção,digo isso "de cadeira" porque sou um policial. Temos detomar uma providência para enfrentaressa verdadeira miséria,essa praga que se espalha pela Nação, esse vírus que degeneraesta sociedade. Aqueles que são pagos para dar segurançaà sociedade, ao cidadão comum, e, ao contrário, vilipendiame matam, têm que ser retira<strong>dos</strong> do convívio social, têm queser leva<strong>dos</strong> às raias de um tribunal. Há um projeto do nobreDeputado Hélio Bicudo que procura impedir que policiaisperversos, maus, bandi<strong>dos</strong> mesmo, facínoras, homicidas, sejamleva<strong>dos</strong> às barras de um tribunal militar, onde têm oportunidadede ser julga<strong>dos</strong> por seus colegas. O projeto faz comque sejam leva<strong>dos</strong> às raias de um tribunal comum, como cidadãoscomuns. ParajJenizo V. Ex~ pela preocupação com estaquestão, pela denúncia que faz. Se contarmos realmente comautoridades, a começar pelos governantes, que se preocupemcom o bem-estar da sociedade - que gera riquezas, que produze paga impostos - vamos modificar esta Nação paramelhor. Que haja eco às palavras de V. Ex~! Que esta Naçãopossa ouvir este pronunciamento! Que nos animemos a combateresse estado de miséria que se instalou nesta Nação!Muito obrigado!O SR. NOBEL MOURA - Eu é que agradeço a V. Ex~o aparte.Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>dos</strong>, as causas da violênciasão as mais diversas. A revista Veja publicou, há alguns dias,matéria sobre as causas da violência, que são controvertidas.Na pesquisa que apresentou, a pontuação da miséria foi deapenas 8%. Pois os parti<strong>dos</strong> de esquerda usam muito o argumentode que a pobreza por si só leva à violência.Eu concordo em parte com autores que dissertaram sobrea etiologia do crime. O autor do livro "Crime e castigo"diz que talvez não seja a pobreza em si a causa da violência,mas que a pobreza e a miséria favorecem e podem precipitá-Ia.Os meios de comunicação levam milhares de imagens violentaspara as residências. Refiro-me, sobretudo, à televisão. Acreditoque essas milhares de imagens, repetidas durante umamédia de seis horas por dia na exibição de filmes e seria<strong>dos</strong>,podem influenciar muito a juventude para o crime.A ociosidade, Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é uma das causas <strong>dos</strong> maiorescrimes cometi<strong>dos</strong> neste País. Hoje falta perspectiva detrabalho para a juventude, que a cada ano aparta ao mercadode trabalho sempre com muita esperança. No entanto, essesmilhares de jovens não encontram receptividade nos setoresda economia nacional por causa dessa constante política recessivano País.Srs. Deputa<strong>dos</strong>, penso que o Governo Itamar Francopoderia ter contemplado esse projeto contra a fome e a misériacom alguma proposta no setor de pla'nejamento familiar. Comopode o Governo planejar os seus gastos, se não sabequantas crianças estão nascendo anualmente? É necessárioque o Governo dê condições para que as mulheres controlema sua fertilidade. Não digo que ele deve interferir na políticade planejamento familiar. To<strong>dos</strong> sabemos que essa atuaçãoé inócua. Mas o Governo deve propiciar condições para quemdesejar ter acesso a to<strong>dos</strong> os méto<strong>dos</strong> modernos de contracepção,seja cirurgia, seja qualquer método anticonceptivo.O Sr. Liberato Caboclo - Solicito !lO nobre colega ~ob_elMoura, meu companheiro, por algum tempo, na Comlssaode Seguridade Social e Família e por quem tenho grandeapreço, um aparte.O SR. NOBEL MOURA - Pois não.O Sr. Liberato Caboclo - Estou acompanhando atentamenteo discurso de V. Ex~ Tenho dúvida de que este Plenárionão concorde com V. Ex~ no que tange à violência, numaescalada jamais vista no País. Continuo achando que o modeloeconômico, independentemente de conotações ideológicas,é o maior responsável pelo aumento da criminalidade no País.E não é preciso ler ou ter acesso a qualquer informação,porque a minha experiência de vida me mostra particularidadesque nos levam a acreditar que certos erros cometi<strong>dos</strong>no País, num passado recente, são os grandes responsáveispela violência. Um deles é a desumanização provocada pelafalta de um permanente contato. O Deputado Nobel Moura,assim como eu, mora em cidade dita do interior. Posso dizer,caro Deputdo Nobel Moura, que, quando cheguei em SãoJosé do Rio Preto, no Estado de São Paulo, no início da