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DIÁRIO - Câmara dos Deputados

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19690 Sexta-feira 17 _DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Setembro de 1993CNA, Antônio Ernesto, Srs. Prefeitos, Srs. Vereadõres, meuscaros colegas Deputa<strong>dos</strong>, minhas senhoras, meus senhores,homens de to<strong>dos</strong> os parti<strong>dos</strong>, das mais diversas parcialidades,reunimo-nos aqui para manifestar nossa preocupação peloNordeste.O Parlamento se constitui em um fórum de debates ­o mais amplo - sobre a vida nacional. Repercutem, em seuseio, todas as esperanças do País; canalizam-se, pelos reclamosquese ouvem aqui, todas as aspirações populares.Este século assistiu, em todo o mundo, a uma crescenteprevalência <strong>dos</strong> Executivos. Retirou-se pouco a pouco <strong>dos</strong>Parlamentos seu poder de iniciativa das leis, reduziram-lhesgradativamente antigas prerrogativas.Criticou-se acerbamente o papel <strong>dos</strong> Legislativos, atribuindo-sea eles o retardamento nas deliberações, a linha,l'lue se apontava como incoerente, de suas decisões, ao sabor,como se censurava, de maiorias eventuais. Reprovou-se, nasCasas do Parlamento, a falta de "confidencialidade de posição",que não recomendaria se processasse nelas a discussãodas tão urgentes iniciativas no campo econômico e das tãograves medidas que afetam a segurança nacional.Para muitos analistas, nessa era de centralização e planejamento,de tanta ,complexidade técnica das leis de ordenaçãoeconômica, de tão imperiosa necessidade de uma coordenaçãodas políticas monetária, fiscal e de alocação de rendas, serianatural, então, que os integrantes do Parlamento se vissemem desvantagem ante os Executivos, com seu pooI de tecnocratasaltamente habilita<strong>dos</strong>.E foram lembradas, para os Parlamentos, funções substitutivas,como a da formação de novas lideranças para o quadropolítico, a da fiscalização e do controle <strong>dos</strong> governos.Mesmo aqui, no Brasil, vimos o quanto foram diminuídas,nas últimas décadas, as atribuições do Congresso, como foireduzida sua competência com respeito à iniciativa das leis,dando-se ao Executivo papel exagerado na formação das normas,com o decreto-lei e com o decurso de prazo.Mas nunca se encontrou, em verdade, melhor alternativa. para a realização das expectativas, tão múltiplas, da almanacional, que a mobilização eleitoral, que a atividade <strong>dos</strong>parti<strong>dos</strong>, que, afinal; a discussão nos Parlamentos.E nesta nova República - a sexta, desde a proclamaçãode Deodoro - recuperou o Congresso integralmente sua participação,sua importância em relação aos outros Poderes.Produtor de leis, fiscalizador de todo o processo governamental,pode ele também, como o faz agora, acolher devidamenteo clamor justo de uma região.Defendi durante a minha campanha para a Presidênciada Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> - e venho trabalhando rigorosamentenesse sentido - que o Congresso Nacional, sobretudoa Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, a Casa do povo, não se constituísseapenas no centro de debate <strong>dos</strong> grandes problemas nacionais,mas também no indutor do processo de desenvolvimento nacional.E já demos sobejas demonstrações disso, como, porexemplo, na aprovação da política nacional de salários, nascidano seio da Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, possibilitando ao trabalhadora recomposição do seu salário mês a mês, em facede uma inflação que a cada dia mais aumenta.Em um texto escrito em 1918, o grande estudioso denossa formação, Oliveira Vianna, queixava-se do desinteressedas classes políticas e dirigeQ.tes pelos problemas <strong>dos</strong> sertõesnordestinos.Esse desinteresse, insistia ele, datava de pouco menosde um século, pois que nos perío<strong>dos</strong> anteriores, durante ostrês séculos coloniais, a atenção aos sertões era "uma sortede obsessão <strong>dos</strong> nossos centros administrativos, localiza<strong>dos</strong>nos litorais".Mas, com nossa independência, as preocupações administrativasteriam deixado de ser os sertões e seus problemas,e a mentalidade das elites dirigentes começou a gravitar emsentido oposto: a obsessão dominante passou a ser "as conquistasliberais" do velho mundo.Não tem inteira razão aquele que foi considerado o nossoprimeiro.,sociólogo sistemático. Mas não resta dúvida de quea ação de nossos dirigentes com relação aos problemas nordestinosfindou sempre prejudicada pela ausência de uma diretrizgeral e unificadora, pela falta de um acurado exame de suascausas mais profundas.Nunca uma região foi tão bem estudada quanto o Nordeste.Os programas e os planos existem; o que falta sãorecursos necessários para executá-los.Os estudiosos de nossa história costumam indicar quea ocupação do território nordestino se processou fundamentalmenteatravés de duas culturas. A primeira, de maior relevo,a do açúcar, analisada com tanto brilho por Gilberto Freyre;a outra, a da pecuária.Mas só depois que o cultivo da cana-de-açúcar se tomouo fulcro da riqueza regional é que ocorre a penetração dointerior e 9 estabelecimento do criatório, avançando alémda faixa lit:btânea, estreita e pouco profunda, mas onde seencontrava "o solo rico, física e quimicamente valioso".Segundo esses historiadores, a penetração <strong>dos</strong> sertõesnordestinos se dá com maior ênfase quando o Império portuguêsse fragiliza, com a derrota de D. Sebastião em Alcacer­Kebir e com a invasão espanhola: levas e levas de reinóisse deslocam, então, para nosso País, encontrando o litoraljá ocupado, cabendo-lhes então somente enveredar pelo "sertãoda terra".E, a partir daí, a vida econômica do Nordeste seria partilhadaentre as duas realidades que se cOplpletavam: "canaviale pastoreio, litoral e interior, senhor de engenho e vaqueiro,casa grande e currais".Mas "osertão da terra" era afligido porgrandes estiagens.Ao que se diz, a seca era um velho fenômeno, apontadojá nos primeiros tempos da Colônia, e teria sido mesmo anteriorao descobrimento.Já nos cronistas do século XVI se encontram referênciasa secas. Em carta de 1552, o jesuíta Antônio Pires conta':!ue, em Pernambuco,"havia quatro ou cinco anos que não chovia... eeste ano choveu tanto e colheram tanto mantimentoque é pasmo e já os da terra se vão persuadindo quepor causa <strong>dos</strong> peca<strong>dos</strong> não chovia."Mais tarde, em 1583, Cardim fala de outro flagelo:"As fazendas de canaviais e mandioca, muitas sesecaram, por onde houve muita fome, principalmenteno sertão de Pernambuco, pelo que desceram, aperta<strong>dos</strong>pela fome, socorrendo-se aos brancos, quatro oucinco mil índios."Tanto tempo decorrido, o problema se apresenta hojecom a mesma intensidade e tão graves implicações como noséculo XVI, quando possuímos agora, como já indicava OliveiraVianna, meios para criar condições de habitabilidade

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