19734 Sexta-feira 17 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção 1) Setembro de 1993tem que exigir a punição <strong>dos</strong> assassinos e garantir proteçãoàs nossas etnias, aos povos indígenas, para alcançarem seudesenvolvimento físico-cultural.Era isso o que tinha a dizer.o SR. JOFRAN FREJAT (Bloco Parlamentar - DF.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr·' e Srs. Deputa<strong>dos</strong>,mais uma vez o Congresso Nacional encontra-se emsituação de extrema dificuldade, porque se quer passar à opiniãopública, ~té em termos plebiscitários, que a revisão constitucionalé um golpe; que os Parlamentares não têm legitimidadepara fazê-Ia; e, se quiserem fazê-la, que seja atravésde emenda constitucional, com um quorum definido. Esseassunto muito me preocupa, até porque temos mantido nestaCasa uma posição de absoluto respeito à Constituição.Compreendo perfeitamente aqueles que não querem arevisão. Eles entendem que a correlação de forças existenteshoje no Parlamento poderá eventualmente trazer algum prejuízopara as conquistas sociais, para os direitos e garantiasindividuais e para essa onda liberal que aí está.Uma coisa é o caráter político da revisão constitucional,se interessa ou não; outra, é o mandamento constitucionalde que ela deve ser feita e se o Parlamento tem poder parafazê-Ia com a maioria absoluta, como definido no art. 3° dasDisposições Constitucionais Transitórias.Nesse sentido, fui buscar nos arquivos desta Casa o espíritodo Constituinte, o que ele pretendia àquela época. VejamV. Ex~: Na fase "s" da Constituinte, inspirado na ConstituiçãoPortuguesa o Deputado Manoel Moreira apresentou propostajunto com o Senador Ronan Tito para que a revisão da nossaCarta Magna fosse feita a cada cinco anos. Essa propostafoi rejeitada. Na fase "T" do projeto; houve a aprovaçãodo texto que hoje está na Constituição. Em junho de 1988foi proposta emenda aglutinativa de Joaquim Bevilácqua eRonan Tito, com a seguinte redação: ."A revisão constitucional será realizada daqui acinco anos, conta<strong>dos</strong> da vigência desta Constituição,pelo voto da maioria absoluta <strong>dos</strong> membros do CongressoNacional, em sessão unicameral."Observe, Sr. Presidente, que, primeiro, os autores insistiramem definir o momento da revisão, daqui a cinco anos,e, segundo, argumentou o Constituinte Joaquim Bevilácquaque essa emenda esteve originalmente no corpo permanenteda Carta, no Capítulo do Poder Legislativo, depois da emendaconstitucional. "E a deixamos para as Disposições ConstitucionaisTransitórias por falta de quorum. Mas o que pretendemosé que fique prevista uma revisão da Constituição paradaqui a cinco anos, conta<strong>dos</strong> da vigência da nova Carta, ouseja, uma revisão constitucional em 1993".Veja, Sr. Presidente, o que dizia então o Deputado JoaquimBevilácqua:"Em 1993 teremos a experiência do primeiro Presidenteeleito pelo VGto direto, quer neste ano de 1988,quer no ano de 1989, segundo decidir a sC'berania destePlenário. O povo terá, portanto, a experiência de algunsanos do novo Presidente, eleito pelo voto direto,e o Congresso Nacional, eleito em 1990, já estará noprimeiro ano do segundo biênio; játeremos a legislaçãocomplementar, a legislação ordinária e uma boa experiência,daquiloque escrevemos, porque não somos profetas.E possível que em muitas coisas tenhamos errado, .como é provável que em muitas outras coisas tenhamosacertado. O prazo de cinco anos é bastante razoável,e ele se reforça sobretudo quando aprovamos aqui afusão das emendas em torno da proposta do DeputadoCunha Bueno."Neste ponto vale uma digressão, Sr. Presidente. Não seestava condicionando o art. 3 9 ao art. 2 9 , o do plebiscito.Era uma questão que iria trazer novos argumentos para quea revisão constitucional se estabelecesse. E veja: com relaçãoà legitimidade deste Congresso, dizia ele:"É bem verdade que podemos fazer a revisão constitucionalcom o quorum de 3/5; entretanto, o que desejamosé que ela seja modificada com 50% mais um,em votação unicameral, Senado e Câmara em conjunto.Seria quase uma miniconstituinte, uma Constituiçãoderivada realmente do expresso mandamento constitucionalconfigurado nas Disposições Transitórias".:t;: assim o Constituinte demonstrava que se tratava deum artigo independente, e, segundo, que havia legitimidadepara isso. E mais, Sr. Presidente. O Deputado Constituintee Relator Bernardo Cabral assim se pronunciou a respeito:"Neste ponto chamaria a atenção <strong>dos</strong> eminentesConstituintes Joaquim Bevilácqua e Ronan Tito que,ao invés de se dizer a Revisão Constitucional será realizadaapós cinco anos, se dissesse: "Daqui a cinco anos;porque aí se teria uma única vez essa maioria absoluta.em sessão unicameral."E finalizou o Deputado Constituinte Joaquim Bevilácquaafirmando ser uma questão de redação. A mens legis é queseja em 1993.Ora, Sr. Presidente, os Constituirúes eram homens damaior responsabilidade. Se quisessem vincular a revisão constitucionalao plebiscito de setembro, simplesmente teriamacrescentado um parágrafo, além <strong>dos</strong> dois que fazem partedo art. 2 9 , com uma redação mais ou menos assim: "Na ocorrênciade mudança do sistema ou forma de governo, comoo resultado do plebiscito de 1993, proceder-se-á à imediatarevisão constitucional para a adaptar à nova ordem jurídica".Mas não foi isso o que o Constituinte quis. Isso tudo estános arquivos da Casa, o que demonstra que nós, Deputa<strong>dos</strong>e Senadores eleitos em 1990, estamos imbuí<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> poderesconstituintes para procedermos à revisão da Carta Constitucionale que o art. 3 9 é absolutamente independente daqueleque estabeleceu o plebiscito em 1993.Sr. Presidente, essas considerações são apenas para nosdeixar a salvo das críticas constantes <strong>dos</strong> cartazes espalha<strong>dos</strong>por esta Casa dizendo que semos traidores, golpistas e quequeremos fazer uma reforma simplesmente para tirar as vantagensoferecidas aos trabalhadores brasileiros. Temos um mandamentoconstitucional que nos obriga a fazer a revisão constitucional,sob pena de sermos omissos nesse próprio mandamento.O SR. ELIAS MURAD (PSDB - MG. Pronuncia o seguintediscurso.) - Sr. Presidente, Sr" e Srs. Deputa<strong>dos</strong>,faleceu, aos 94 anos, o grande cidadão brasileiro BelarminoMaria Austregésilo Augusto de Athayde. Com ele, podemosafirmar sem receio de cometer exageros, desaparece um poucoda história deste século, um representante vivo da riquezaintelectual de nosso País.
Setembro de 1993 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Sexta-feira 17 19735Jornalista e escritor, humanista, Austregésilo da Athaydeobservou certa vez que gostaria de ser lembrado, após a morte,como defensor do liberalismo e da democracia, ideais emque procurou basear sua vida.Pernambucano de nascimento, mudou-se para o Estadodo Ceará ainda pequeno. E foi ali que despertou para a vida.intelectual; estudando no Seminário da Prainha, em Fortaleza,e colaborando com a imprensa local. Iniciou-se na profissãode jornalista no Rio de Janeiro, primeiro no jornal A Tribuna,passando depois pelo Correio da Manhã e A Folha, até serconvidado por Assis Chateaubriand para dirigir O Jornal,periódico precurssor <strong>dos</strong> "Diários Associá<strong>dos</strong>".Cidadão consciente, Austregésilo de Athayde esteve semprepresente nos grandes acontecimentos políticos que pontilharamos últimos sessenta anos da História do Brasil. Estevena oposição aos revolucionários de 30. Enfileirou-se entreos próceres da Revolução Constitucionalista de 32, emprestandoo brilho de sua pena para a redação <strong>dos</strong> manifestosrebeldes. Conheceu, por isso, os amargores da prisão e doexílio.Em 1948,.por indicação do Itamaraty, integrou a ComissãoInternacional encarregada de redigir a "Declaração Universal<strong>dos</strong> Direitos do Homem". Segundo suas próprias palavras,esse foi um <strong>dos</strong> momentos mais marcantes de sua vida:"a humanidade levará muito tempo até compreender a transcedenteimportância desse documento". .Para realçar e coroar o brilho de sua inteligência singular,foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, em 1951,e posteriormente, em 1959, tornou-se seu presidente. Ali pontificoupor 35 anos, revelando outro de seus talentos: o deadministrador. Com efeito, sob sua regência a "Casa de Machadode Assis" conheceu período de grande tranqüilidadefinanceira. Seu patrimônio elevou-se a quase 100 milhões dedólares, seja através da doação de imóveis, seja através daliberação de verbas governamentais.Mas não é lícito falar <strong>dos</strong> feitos e conquistas desse homemsem realçar também sua dimensão pessoal. Os que partilharamde sua companhia são unânimes em afirmar que ele se destacavapor uma incomparável alegria de viver. E quanto maisentrava em anos, tanto melhor pareciam caracterizá-lo a lucideze a vitalidade.Gostaria de registrar, neste momento, minha mais sincerahomenagem à memória desse grande brasileiro. Austregésilode Athayde alcançou a glória maior a que pode aspirar qualquercidadão: a de viver nas boas lembranças de seus compatriotas.O SR. ÁLVARO PEREIRA (PSDB - MG. Pronunciaseguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sr~ e Srs. Deputa<strong>dos</strong>,assomo hoje à tribuna para registrar, com satisfação, a assinaturade um protocolo entre os Governos do Brasil e da China,ocorrido ontem de manhã no Ministério de Ciência e Tecnologia,para implementar o Projeto Sino-Brasileiro de Recursosda Terra. Este projeto prevê a construção conjunta de doissatélites artificiais de sensoriamento remoto a serem coloca<strong>dos</strong>em órbita por veículos lançadores chineses, o que vai exigirum investimetno de 150 milhões de dólares, <strong>dos</strong> quais 30%caberão ao lado brasileiro.Para assinatura do Protocolo de Pontos Principais, o ter··ceiro documento assinado entre China e Brasil para a construção<strong>dos</strong> satélites, encontra-se no País o Presidente da AgênciaNacional Espacial da China, Liu Jiyuan, em visita oficial aconvite do Ministro de Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas.A visita, que se completa com contatos e reuniões detrabalho do representante do governo chinês com autoridadesbrasileiras envolvidas na cooperação espacial, incluirá reuniõescom representantes do Instituto Nacional de PesquisasEspaciais, INPE, e o Itamaraty.A cooperação entre China e Brasil na área espacial foiiniciada em 1988, em decorrência de um acordo firmado entreo INPE e a Chinese Academy of Space Tecnology, CAST"respaldado pelo protocolo assinado pelos chanceleres <strong>dos</strong> doi.spaíses em julho daquele ano. Recentemente, a 3 de abnlde 1993 um protocolo suplementar sobre aprovação e pesquisad~ satélite de recursos da Terra ~?i assi~a?o entre o.sgovernos do Brasil e da China, por ocaSIao ~a VISIta ao ~r~stldo Chanceler Quinn Qichen, em conseqüênCia de negocIaçoestécnicas entre o INPE e a CAST.Além da visita à Brasília e da assinatura do protocolono Ministério de Ciência e Tecnologia, o Ministro Liu Jiyuanterá como complementação de sua missão oficial, visita, hoje,a São José <strong>dos</strong> Campos, em São Paulo, ao Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais, INPE, ao Centro Técnico Aeroespacial,CTA, e a empresas nacionais ligadas ao setor.Gostaria de destacar que a visita do Ministro chinês, presidenteda agência espacial daquele país, dá merecido destaqueao empreendimento de cooperação tecnológica mais relevanteentre o Brasil e a China, outro país em desenvolvimepto,constituindo fator muito especial no contexto das relaçõessino-brasileiras. A importância política deste projeto conjuntoreside no fato de que se trata do primeiro exemplo de cooperaçãoSul-Sul numa área tecnológica da qual até hoje apenasos países desenvolvi<strong>dos</strong> têm se destacado. Países de dimensõescontinentais, tanto o Brasil quanto a China dependem fortementedas técnicas de sensoriamento remoto e de outros méto<strong>dos</strong>de coleta de da<strong>dos</strong> porsatélite para monitoramento permanentede seus territórios e recursos naturais.É bom lembrar que o Brasil é, há vários anos, usuário<strong>dos</strong> sistemas de sensoriamento remoto norte-americano,Landsat, e francês, Spot, recebendo e processando as imagensdeles oriundas. O projeto do satélite sino-brasileiro permitiráque o Brasil, de usuário, passe a serproprietário de seu própriosistema, com a possibilidade de comercializar internacionalmenteas imagens dele recebidas. O satélite a ser produzidopor China e Brasil será comercialmente competitivo, superiorem certos aspectos aos atualmente existentes. A cooperaçãoservirá também para que o Brasil avance em capacitação tecnológica,para a consecução da Missão Espacial CompletaBrasileira, que prevê o lançamento de dois satélites de sensoriamentoremoto exclusivamente brasileiros. Esse projeto, segundoinformações do Ministro José Israel Vargas, se beneficiará,em parte, de recursQs provenientes da desestatizaçãode empresas públicas para a infra-estrutura de ciência e tecnologiae para projetos de. importância estratégica que estãocom atrasos em seu cronograma, conforme determinação doPresidente Itamar Franco.Por to<strong>dos</strong> esses aspectos significativos para o desenvolvimentotecnológico do País é que ocupo hoje a tribuna destaCasa, para dar conhecimento da assinatura deste importanteprotocolo entre o governo da China, através do Ministro LiuJiyuan, e o Governo do Brasil, representado pelo MinistroJosé Israel Vargas.Era o que tinha a dizer.