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DIÁRIO - Câmara dos Deputados

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Setembro de 1993 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL (Seção I) Sexta-feira 17 19731Três. L~goas e Navirai. Inclusive, fomos acompanhando umacomlssao permanente de fiscalização de carvoarias e destilarias,coo.rdenada pela Delegacia Regional do Trabalho, juntocom entidades da sociedade civil, o Governo do Estado eorganizações de trabalhadores.A propósito disso, Sr. Presidente, como tenho viagemmarcada para daqui a pouco e não posso esperar pelo momentoda Ordem do Dia, queria aproveitar para encaminhara ':I. Ex' uma série de requerimentos que o Deputado JoséCtcote e eu estamos fazendo para pedir informações ao Governosobre esses fatos.Por e~emplo, queremos que a Funai envie cópia dessecontrato feito com empresas para fornecer mão-de-obra indígena,sem os direitos trabalhistas, discriminando-os <strong>dos</strong> cida­~ãos brasileiros. Estamos enviando também requerimento demformações ao Ministro Fernando Henrique Car<strong>dos</strong>o parasaber o que está sendo feito das multas cobradas pelas DRTsa essas empresas que utilizam trabalho escravo ou semi-escravoe têm sido multadas várias vezes por falta de registro.?u~remos saber se, elas estão pagando as multas e o quee feito delas. Tambem queremos saber se o Banco do Brasilconcede algum tipo de empréstimo, subsídio ou incentivo aempresas que se utilizam do trabalho escravo ou semi-escravo.Também estamos pedindo informações ao Sr. Ministro daPrevidê~cia sobre a situação dessas empresas, destilarias e~rv~anas ?o Mato Grosso do Sul, no que se refere à PrevidenclaSoclal e ao Fundo de Garantia. Não é possível queo Estado, através do Ministério do Trabalho. por um ladová mult~r e~pres~s _que degradam o ser humano a pontode ~eduzl-lo a condlçao de escravos e, por outro lado, o Minist~nodaFazenda esteja fornecendo crédito, subsídio ou incentlVOa essas empresas. Isso não nos parece justo, nem regular.Quero remeter esses documentos a V. Ex'Finalmente, requeiro que as reportagens <strong>dos</strong> jornais Folhade S. Paulo e O Estado de S. Paulo de hoje, sobre oassunt~ destilarias e carvoarias do Mato Grosso do Sul, sejamtranscntas nos Anais desta Casa, pela importância de quese revestem.REPORTAGENS A QUE SE REFERE O ORA­DOR:EMPRESA É MULTADA PORALICIAR GRUPOS DE ÍNDIOSBrasília - A Destilaria Brasilândia S.A. (DEBRASA),em Mato Grosso do Sul, recebeu uma multa inédita de CR$34~ilhões na história do trabalhismo brasileiro pela contrataçãoIrregular de 1.370 índios para trabalhos temporários em seuscanaviais. Uma fiscalização da Delegacia Regional do Trabalhono Estado, na segunda-feira e terça-feira, constatou apresença de grupos de índios terenas, caiovás e guaranis naempr~sa, além de centenas de crianças, contratadas para turnos~lUrnos e .noturnos de 12 horas. A DRT determinou queas cnanças sejam mandadas de volta às reservas.Pela primeira vez, é aplicado o art. 14 do Estatuto doÍndio, que estabelece não haver distinção entre os trabalhadoresindígenas e demais trabalhadores. Na Debrasa os índiosrealizam o corte da cana, vivem em condições s~bumanase são explora<strong>dos</strong> por um aliciador, que fiscaliza a produção.Em busca de mão-de-obra barata, as destilarias e carvoarias~e ~ato Gro~so do ~ul contratam irregularmente crianças,mdlOs e famílias de mlgrantes para o trabalho mais pesado.CONDIÇÕES SÃO PRECÁRIAS .Brasília - Liaeradas pelo índio Getúlio Manoel, 55 criançasdo grupo indígena caigangue, com idades entre 10 e 16anos, trabalham durante a noite na Destilaria Brasilândia(DEBRASA), em Mato Grosso do Sul, recolhendo restosda cana cortada de dia. O grupo foi trazido do Paraná. Musculosos,apesar da pouca idade, os índios só falam com estranhosse o líder Getúlio permite. "Ele é o cabeçante", explica umd~s t~abalhadores. Nos 11.800 hectares de cana da empresa,ha cnanças de todas as idades trabalhando dia e noite, emturnos de 12 horas... A figura do "cabeçante" significa o "gato" do índio, oaliCiador da mão-de-obra. O "cabeçante" está sempre junto<strong>dos</strong> grupos de índios, principalmente <strong>dos</strong> menores e embolsa15% do salário pago pela empresa de acordo com ~ produção.Oíndio caiová Julinho tem dificuldade para falar porque estácom 'p~~blem~s respiratórios. "Aqui está dando muita pneumoma, explica um trabalhador. Mesmo assim, ele continuacortando cana, sob os olhos severos do "cabeçante" AntônioGomes. Para ganhar um salário de CR$3 mil por mês Julinhotemde cortar, por dia, pelo menos sete ruas de can~.No alojamento, as crianças caigangues ficam amontoadasem beliches imun<strong>dos</strong> e dormem de dia em pequenas espumasrasgadas e cobertas de moscas. Os outros índios menores deidade dormem à noite, depois de uma jornada de 12 horasn,?s canaviais. Alguns jogam bola no campo em frente, mastem de pagar uma taxa pelo lazer. A água do rio tambémé_descontada pela Brasilândia, segundo comprovou a ComissaoPermanente de Investigação e Fiscalização das condiçõesde trabalho nas carvoarias e destilarias do Mato Grosso doSul, dur~n_te a insp~ção que fez na segunda-feira na empresa.As condlçoes de ahmentação também são precárias. Um <strong>dos</strong>200 trabalhadores paranaenses que há três meses trabalhana destilaria disse que a comida das duas primeiras semanassempre provoca diarréia. "Depois eles acostumam."Anildo Martins, de 13 anos, prefere não conversar. Recebesinais ~o :'cabeçante" para guardar o facão e seguir adiante,~mo ~o om~us que os conduzirá até') alojamento. "A gentenao sal daqUI nem um dia; no sábado trabalha e no domingolava roupa", conta o guarani Virgílio Ferreira, 14 anos.COMISSÃO DEVERÁ APURAR DENÚNCIASBrasília - O Secretário das Relações do Trabalho doMinistério do Trabalho, José Luiz Ricca, anunciou a criaçãode uma comissão para acompanhar de forma permanente asdenúncias de trabalho escravo e trabalho forçado em todoo País. Ricca participou da visita à carvoaria da Fazenda BoaAguada, junto com o grupo instituído para fiscalizar denúnciasde trabalho escravo na região de Mato Grosso do Sul a ComissãoPermanente de Investigação e Fiscalização das Condiçõesde Trabalho nas Carvoarias e Destilarias do Estado.Formada pela De~egacia ~egional do Trabalho e por umgrupo de ONG, Igreja, MOVimento de Meninos de Rua eComissão <strong>dos</strong> Direitos Humanos, a comissão já visitou duasdestilarias e três carvoarias na região. (E.P.)FAMÍLIAS INTEIRASTRABALHAM SEMRECEBER SALÁRIOBrasília - Escondida por uma nuvem de fumaça quetorna o ar irrespirável, imunda por causa do carvão, a família

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