Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ochechas. Seus pés produziam ruídos característicos sobre o cascalho. Os jardins estavam<br />
praticamente vazios, em comparação às multidões <strong>que</strong> se reuniam ali na primavera e no verão.<br />
Agora, mesmo com o frio <strong>que</strong> fazia, sempre havia pessoas <strong>que</strong> procuravam o local em busca<br />
de refúgio. Fotografavam a grande lagoa perfeita em forma octogonal na frente do palácio. Os<br />
turistas visitavam Paris mesmo em novembro, ou se amontoavam e se punham a meditar em<br />
cadeiras ou nas escadas; outros apenas caminhavam.<br />
Um mendigo havia reunido oito cadeiras para formar uma espécie de cama, e instalara-se<br />
lá, com cobertores usados e uma ja<strong>que</strong>ta nova em folha, <strong>que</strong> devia ter encontrado em algum<br />
lugar. Muito feliz, comia depressa algo <strong>que</strong> estava em uma caixa com aparência familiar.<br />
O <strong>que</strong>ixo de Sylvain caiu quando percebeu <strong>que</strong> o homem estava comendo algo contido em<br />
uma caixa marcada com seu nome. E não era só isso: ele tinha uma sacola enorme com o nome<br />
de Sylvain, <strong>que</strong> estava carregada de, pelo menos, outras oito caixas de <strong>chocolate</strong>s. — Onde<br />
você conseguiu isso? — Ele perguntou com rispidez, embora, enquanto fizesse isso, já<br />
começasse a adivinhar. Sentia-se furioso, apesar de lembrar-se de <strong>que</strong> devia manter o<br />
autocontrole.<br />
— Une femme — o homem acenou vagamente para uma das alamedas. — Ela me deu um<br />
chocolat de merde um dia desses, e eu fui sincero com ela, reclamei. Pelo jeito, ela se sentiu<br />
culpada, por<strong>que</strong> voltou no outro dia e me deu uma caixa cheia de coisas boas. Sylvain<br />
Marquis — contou o homem com gratidão. — Nunca pensei <strong>que</strong> fosse comer algo feito por<br />
Sylvain Marquis.<br />
— Isso é mais do <strong>que</strong> uma caixa! — Exclamou Sylvain. Uma parte dele se sentia culpada,<br />
igualmente, ao ver um mendigo tão grato por comer seus <strong>chocolate</strong>s. Ele precisava fazer algo a<br />
respeito. Mas outra parte dele estava fervendo de raiva. Ela mesma não estava comendo seus<br />
<strong>chocolate</strong>s? Não estava lá em cima, no apartamento dela, saboreando pedaço a pedaço dele,<br />
Sylvain?<br />
O homem fechou a sacola depressa, imaginando <strong>que</strong> seu interlocutor representasse uma<br />
ameaça. — Ouais, ela me entregou isso aqui há poucos minutos. Ela deve ser complexada por<br />
causa da<strong>que</strong>la Barra Corey <strong>que</strong> me deu na primeira vez. Ah, e também me deu esta ja<strong>que</strong>ta. O<br />
mendigo a abraçou possessivamente, evidenciando como se sentia <strong>que</strong>nte e protegido com ela.<br />
E então fungou. — O <strong>que</strong> não gostei foi do jeito dela, mandona e <strong>que</strong>rendo meter o nariz na<br />
minha vida. Ela tentou me convencer a ir para um abrigo, quando eu tenho todo esse jardim<br />
bonito para mim...<br />
Ela havia invadido seu laboratoire, roubado seus <strong>chocolate</strong>s, para, em seguida, dá-los,<br />
sem qual<strong>que</strong>r preocupação, a um mendigo nos jardins? Quem era ela afinal, Robin Hood du<br />
Chocolat?<br />
Sylvain deu 10 euros ao homem e caminhou na direção <strong>que</strong> ele havia indicado de modo<br />
vago; logo identificou um casaco vermelho. Cade Corey caminhava entre castanheiros e<br />
bancos verdes e vazios, depois das estátuas brancas das rainhas francesas. Caminhara muito<br />
para alguém do seu tamanho. O vento puxava seu cabelo, e ela andava com as mãos nos