04.04.2017 Views

01 - Melhor que chocolate

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAPÍTULO 4<br />

AS FOLHAS VOAVAM pelo cascalho dos Jardins de Luxemburgo. Cade<br />

deixou o vento soprar Sylvain Marquis para longe de sua cabeça e ergueu o <strong>que</strong>ixo,<br />

emocionada pelo fato de estar caminhando ali.<br />

Ondas se formavam no círculo perfeito da piscina em frente ao palácio do século XVII,<br />

mas não havia botes de crianças flutuando por lá na<strong>que</strong>le dia, como sempre havia nas fotos. O<br />

sol penetrava pelas nuvens, a luz vencia o cinza atrás das árvores e do palácio.<br />

O par<strong>que</strong> estava quase vazio. As poucas pessoas <strong>que</strong> ali estavam pareciam estar usando o<br />

local como atalho, olhando para baixo, com as mãos nos bolsos dos casacos, com pressa de<br />

chegar a algum lugar cedo. Alguns corredores circulavam pela extensão do par<strong>que</strong> parecendo<br />

completamente deslocados na<strong>que</strong>la paisagem clássica e estranha para seus corpos atléticos.<br />

Lá estava ela, Cade pensou, parando em frente à piscina para olhar ao redor. Mãos<br />

enfiadas nos bolsos em um impulso momentâneo, explorando a<strong>que</strong>la preciosidade. Paris.<br />

Ela deixou para lá a recusa de Sylvain Marquis. Um obstáculo temporário. Manteria<br />

a<strong>que</strong>la cidade dentro dela assim <strong>que</strong> fosse bem-sucedida com sua linha de produtos. Sua vida<br />

guardaria a cidade em um laboratoire, uma oficina cheia da alquimia e do alvoroço do<br />

<strong>chocolate</strong> artesanal, mestres apaixonados por sua arte, produzindo algo magnífico. Tudo isso<br />

se tornaria parte dela.<br />

Sua alma parecia extrapolar seu ser ao pensar nisso, cada vez maior, cada vez mais rica,<br />

ficando maior, tão rica quanto um ganache de <strong>chocolate</strong> amargo infundido em algum novo<br />

sabor desconhecido por ela, sendo mexido em fogo bem baixo.<br />

Seus olhos ardiam, talvez fosse o vento frio ou a súbita beleza do momento. Ela poderia<br />

ficar horas ali, exceto pelo odor de urina <strong>que</strong> invadia o lugar. Um homem com a barba por<br />

fazer, de roupas manchadas, olhava para ela, resmungando alguma coisa, as mãos na lateral do<br />

corpo com as palmas para cima.<br />

Ela deu 20 euros para ele e, num momento de capricho, a Barra Corey <strong>que</strong> era seu<br />

talismã. Ela tinha uma caixa grande de barras e podia encher o esto<strong>que</strong> em seu apartamento<br />

alugado, e ela gostava de dar Barras Corey quando dava dinheiro a alguém na rua. Sempre<br />

imaginava <strong>que</strong> isso trazia um brilho de prazer à pessoa <strong>que</strong> as recebia.<br />

Continuou passeando, sentindo-se mais forte, mais corajosa, mais livre, a ofensa de<br />

Sylvain Marquis e a superioridade do seu <strong>chocolate</strong> foram ficando para trás em sua mente. A

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!