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01 - Melhor que chocolate

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Tinha enrubescido na noite anterior. Repetidas vezes, ao sentar-se ali, parecendo tão<br />

solitária e obstinada, arrogante e vulnerável. Havia fechado os olhos por um momento de pura<br />

benção no segundo em <strong>que</strong> a<strong>que</strong>les ravioles du Royan com seu crème au basilic haviam<br />

tocado sua língua, da maneira como ele sabia <strong>que</strong> tocariam.<br />

E então os olhos dela encontraram os dele e ela enrubesceu e parou de comer. Estava<br />

ocupada demais sendo arrogante.<br />

Ele passou silenciosamente pelos alunos, sem interromper Pascal, e parou na frente dela.<br />

Os punhos dela fecharam-se firmemente sobre o mármore, ele se perguntou se ela<br />

machucaria as articulações na pedra. Seu olhar era tão intenso <strong>que</strong>, por um momento, parecia<br />

<strong>que</strong> ela estava lutando contra uma vontade interna de implorar.<br />

Implorar?<br />

Por <strong>que</strong> você <strong>que</strong>r tanto isso? Era o <strong>que</strong> ele <strong>que</strong>ria perguntar-lhe. O <strong>que</strong> será <strong>que</strong> você<br />

está procurando aqui <strong>que</strong> faria com <strong>que</strong> alguém como você não conseguisse usar as<br />

palavras “por favor”?<br />

A família Corey era dona de algo em torno de 30% das plantações de cacau do mundo.<br />

Era dona. Fundaram institutos inteiros <strong>que</strong> ficavam no caminho de chocolatiers como ele e a<br />

infestação de insetos <strong>que</strong> podia destruir todas as colheitas. Eram até mesmo famosos por<br />

liderar o movimento de melhoria do bem-estar nas plantações de cacau.<br />

O conhecimento de seu poder e sua generosidade até poderia ter feito com <strong>que</strong> ele a<br />

tratasse melhor, mas... Ela pagou pelo jantar dele como se a pessoa a implorar fosse ele.<br />

Não, pior ainda, como se ele fosse seu gigolô do <strong>chocolate</strong> ou algo assim.<br />

— Mademoiselle Corey — disse educadamente, alto o suficiente para <strong>que</strong> seu nome<br />

famoso pudesse ser ouvido por todos os outros alunos de lá. — Dos Chocolates Corey — ele<br />

acrescentou, caso alguém não fizesse a conexão. — Que prazer em tê-la conosco. Espera<br />

aprender algo novo sobre <strong>chocolate</strong>?<br />

Ela mordeu os lábios. Ela era meio obcecada, não era, uma vez <strong>que</strong> seus olhos<br />

praticamente imploravam para <strong>que</strong> ele a deixasse ficar? Ela não podia alegar <strong>que</strong> não <strong>que</strong>ria<br />

aprender algo com ele sobre <strong>chocolate</strong>. E não podia bater nele, apesar de <strong>que</strong> ela bem <strong>que</strong><br />

gostaria de fazer isso.<br />

Por alguma razão, seu óbvio desejo de fazer algo violento com ele fez com <strong>que</strong> ele<br />

sentisse uma onda de excitação.<br />

Ele precisava controlar essas excitações. A noite passada fora péssima, com a<strong>que</strong>le<br />

crème au basilic. Sentia-se tão idiota quando se tratava de mulheres bonitas e orgulhosas <strong>que</strong><br />

saboreavam as coisas mais finas da vida.<br />

Ele manteve a fachada de superioridade, mas sentia o coração bater forte ao duelar<br />

internamente para conseguir controlá-la.<br />

— Eu adoraria aprender o <strong>que</strong> você faz com <strong>chocolate</strong> — ela disse em francês, num tom<br />

claro <strong>que</strong> ela provavelmente usava nas reuniões em <strong>que</strong> bilhões de dólares estavam em jogo,<br />

certificando-se de <strong>que</strong> todo mundo pudesse ouvi-la.

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