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01 - Melhor que chocolate

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St-Martin, experimentar pão na padaria Poilâne, ir à casa de chá Mariage Fréres. Apenas para<br />

olhar e comprar um chá. Nenhuma compra <strong>que</strong> não fosse inteiramente necessária. Nada de<br />

perseguir um sonho com a implicação de risco de fracasso.<br />

Já na rua, do lado de fora do seu prédio, um carro do tamanho de uma caixa de sapato<br />

passou rápido demais para uma travessa tão pe<strong>que</strong>na e tão estreita. Podia ser domingo de<br />

manhã, mas dirigir carros tinha o mesmo efeito <strong>que</strong> uma xícara de café para os motoristas<br />

parisienses. Um jovem desengonçado, com patins in-line nos pés, sem sorrir, concentrava-se<br />

no próprio mundo. Um homem mais velho, talvez alguém com uma família, saiu da padaria<br />

com uma sacola de papel branca em uma das mãos e uma caixa branca balançando pela alça<br />

presa a um dedo da outra mão. Estava sorrindo, de leve, sem motivo aparente, talvez de Paris<br />

em um domingo pela manhã ao virar uma esquina. Cade imaginou a família esperando por ele,<br />

um homem depositando o tesouro das massas folhadas do domingo de manhã na frente dos<br />

filhos com casual satisfação.<br />

Um grupo de seis mulheres e um homem corria de um lado para o outro, de maneira<br />

estranha, na frente da loja de Sylvain Marquis, alguns deles falavam animadamente, outros<br />

agiam como pessoas <strong>que</strong> não se conheciam muito bem. Três das mulheres eram japonesas e<br />

formavam seu próprio elegante grupo fechado. Dois outros eram, certamente, americanos.<br />

— Não acho <strong>que</strong> ele abra hoje — Cade disse a eles. A última pessoa <strong>que</strong> precisava<br />

encontrar grupos esperando por ele o dia todo era Sylvain Marquis.<br />

— Ah, estamos aqui para a oficina — disse uma americana de 60 e poucos anos com<br />

orgulho. Usando um moletom roxo, e cheia de maquiagem, ela parecia o mais feliz e satisfeita<br />

possível consigo mesma.<br />

— A oficina? — Será <strong>que</strong> Sylvain Marquis estava ensinando os segredos de seu talento?<br />

— Vamos aprender como fazer o <strong>chocolate</strong> de Sylvain Marquis — explicou a mulher<br />

animada.<br />

— Sério? — Cade mal hesitou. — Humm... Posso lhe fazer uma pergunta em particular?<br />

— Ela fez um gesto para <strong>que</strong> se distanciassem um pouco do restante do grupo.<br />

— Por quê? — A mulher perguntou, imediatamente sentindo-se cautelosa. — Você vai me<br />

atacar?<br />

Cade olhou para ela sem entender nada e depois percebeu seu elegante e caro casaco,<br />

bem como as botas e luvas — Parece <strong>que</strong> eu vou atacar você?<br />

— Bem, não — a mulher admitiu. — Mas aqui é Paris. É bem provável <strong>que</strong> os<br />

trombadinhas se vistam melhor aqui.<br />

— Não, eu só... Quanto você <strong>que</strong>r para desistir da sua vaga nesta oficina e me deixar<br />

fingir <strong>que</strong> sou você?<br />

— Nada! — Disse a mulher ofendida. — Estou esperando ansiosamente por isso há<br />

meses! Planejei minha viagem inteira a Paris em torno disso.<br />

— Dois mil dólares — Cade tentou acabar com todas as reservas dela com o primeiro<br />

número extravagante em <strong>que</strong> pensou.

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