Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
escuros a estudaram atentamente, como se ele fosse <strong>chocolate</strong> e ela, digamos, <strong>que</strong>ijo podre, e<br />
ele ficava imaginando o <strong>que</strong> os dois poderiam significar quando colocados juntos.<br />
Ela sentiu o rubor aumentar, subindo por debaixo do cachecol e chegando ao rosto.<br />
Contraiu-se por dentro na esperança de <strong>que</strong>, se encolhesse o suficiente, seria inteiramente<br />
renegada, encolher dentro da<strong>que</strong>le pe<strong>que</strong>no elevador, e se esconder em seu apartamento,<br />
enquanto seu exterior faria coisas <strong>que</strong> os levariam a lamentar o dia em <strong>que</strong> nasceram.<br />
— Tu veux faire une promenade? — Ele repetiu, como <strong>que</strong> verificando possíveis erros<br />
ao usar sua língua. A<strong>que</strong>les olhos escuros continuaram a estudá-la, como se quisessem fundi-la<br />
em algo <strong>que</strong> pudessem decifrar; por outro lado, a<strong>que</strong>le rosto contido e controlador nada<br />
revelou. Nem mesmo uma única sensação de súbito prazer com a proposta feita. — Comigo?<br />
— Ele perguntou para ter certeza.<br />
Ela iria sozinha. Ou talvez subiria até o apartamento para se esconder. Se não fosse tão<br />
próximo do local de trabalho dele. Ou talvez se esconderia em uma pe<strong>que</strong>na bolha e pegaria<br />
seu jato particular de volta para os Estados Unidos. Na<strong>que</strong>le momento, talvez essa fosse a<br />
melhor coisa a fazer.<br />
— Você <strong>que</strong>r fazer alguma coisa comigo além de...? — Ele parou de falar. Com uma das<br />
mãos junto à barriga, ele fez um pe<strong>que</strong>no gesto entre eles, entre a <strong>chocolate</strong>rie e o apartamento<br />
dela. Em seguida, a<strong>que</strong>la mesma mão colocou a palma para cima, aberta e enigmática.<br />
E ela chegou a acreditar <strong>que</strong> o jantar na noite anterior tivesse mudado o relacionamento<br />
deles de puro sexo para algo um pouco mais emocional.<br />
Mas, aparentemente, cozinhar para ela era apenas outra maneira de levá-la para a cama.<br />
Foi então <strong>que</strong> o rubor <strong>que</strong> sentia se tornou tão vermelho quanto seu lenço, e algo ainda<br />
pior pressionou seus olhos: lágrimas. Ela estava sempre chorando na<strong>que</strong>le país estúpido. Ela<br />
nunca chorava em seu país.<br />
— Deixa para lá — ela disse em inglês, por<strong>que</strong> não conseguia se lembrar de como dizer<br />
aquilo em francês, e virou-se para a porta, levando as mãos aos bolsos do casaco.<br />
Ele segurou a manga do casaco dela, fazendo-a parar. — Eu adoraria — ele respondeu<br />
cuidadosamente em inglês.<br />
Ela piscou rapidamente, ajeitando o <strong>que</strong>ixo contra as estúpidas e magoadas lágrimas <strong>que</strong><br />
escorriam. O sota<strong>que</strong> dele no idioma dela deixou-a totalmente desarmada.<br />
Ele deslizou a mão no bolso do casaco dela até encontrar a mão dela e depois a puxou,<br />
revelando a união de ambas as mãos com dois pares de luvas entre elas, impedindo o to<strong>que</strong> da<br />
pele. A última vez <strong>que</strong> suas mãos se uniram foi quando ele estendeu o braço dela sobre a<br />
cabeça e o imobilizou no colchão. Após um cho<strong>que</strong> estranhamente assustador, ela percebeu<br />
<strong>que</strong> a<strong>que</strong>la era a primeira vez <strong>que</strong> eles realmente davam-se as mãos. — É uma tarde boa para<br />
uma caminhada — ele disse.<br />
Dependia. Fazia frio e o céu estava cinza, e o vento gelava a pele, e havia um to<strong>que</strong> de<br />
neve no ar <strong>que</strong>, provavelmente, terminaria em chuva fria. Era uma tarde boa para um passeio