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— Você está morando aqui? — Sylvain perguntou bem por detrás do ombro, e ela deu um<br />
pulo tão violento <strong>que</strong> ele teve de segurá-la para evitar cair.<br />
— Estou ao telefone — ela disse indiferente, virando-se de costas para ele. Ele a soltou<br />
para <strong>que</strong> ela pudesse se virar, para o arrependimento dela. Tentou abrir a porta, mas<br />
continuava fechada. Fez uma careta e digitou o código novamente. — Ah, não é ninguém vovô,<br />
é a<strong>que</strong>le Marquis, o chocolatier <strong>que</strong> mencionei para o senhor.<br />
— Sério? — Vovô Jack parecia encantado. — Tem como eu ouvir o <strong>que</strong> ele diz? Você<br />
pode colocar o telefone no viva-voz para <strong>que</strong> ele possa me ouvir? Conheço vários palavrões<br />
bons em francês.<br />
— Não. E não venha para cá. Esse lance é meu — se Sylvain não tivesse se intrometido<br />
novamente, ela poderia ter tentado convencer o avô de <strong>que</strong> não estava roubando os segredos<br />
de <strong>chocolate</strong> de fato, mas não sabia como fazer aquilo na frente da pessoa de <strong>que</strong>m ela estava<br />
roubando. É bem provável <strong>que</strong>, mesmo assim, o vovô estivesse muito orgulhoso dela.<br />
Um momento de silêncio doloroso seguiu-se ao telefone e ele disse: — Eu teria sido um<br />
bom parceiro.<br />
— Não disse <strong>que</strong> não seria, vovô, mas <strong>que</strong>ro fazer isso sozinha. Podemos ir para a Suíça<br />
mês <strong>que</strong> vem.<br />
— Suíça — disse Sylvain bem perto do ouvido dela, abaixando a boca. Será <strong>que</strong> ele não<br />
tinha noção de espaço pessoal? Será <strong>que</strong> dava para ouvir o <strong>que</strong> o avô dizia?<br />
Ela colocou um pouco mais de vigor na frieza dos ombros. Aparentemente não causou<br />
muito efeito sobre ele. Será <strong>que</strong> ele pensava <strong>que</strong> podia simplesmente brincar com as emoções<br />
dela a manhã toda, dar as costas e chutá-la para a rua fria, forçá-la a entrar no mundo do<br />
crime, e depois <strong>que</strong>rer puxar papo com ela no dia seguinte?<br />
— Como assim mês <strong>que</strong> vem? Você não tem de trabalhar? — Indagou o avô<br />
incisivamente. Depois, em voz alta, afrouxou o tom. — O seu pai vai deixar você brincar um<br />
pouco? Eu sempre achei mesmo <strong>que</strong> você trabalha demais. Vá fazer compras ou algo assim.<br />
Você é uma menina!<br />
Cade suspirou e revirou os olhos. — Acabei de comprar algo bonito na Hermès, vovô.<br />
Não se preocupe comigo — qual era o problema com a<strong>que</strong>le painel estúpido? Por <strong>que</strong> ela não<br />
conseguia abrir a porta?<br />
— Quem é Hermès? — Perguntou o avô sem entender nada. — Achei <strong>que</strong> estivéssemos<br />
falando de compras. Você está falando do chocolatier?<br />
— Você vai se encontrar com Pierre Hermè agora? — Sylvain parecia bem frustrado. O<br />
único efeito <strong>que</strong> a gelada de ombros estava causando é <strong>que</strong> ela podia sentir a respiração dele<br />
no alto da cabeça e não no ouvido. — Ele fez uma visita guiada no seu próprio laboratoire?<br />
Seu cheiro é meio de limão com baunilha.<br />
Será <strong>que</strong> os aromas do laboratoire dele a estavam marcando como borrões de tinta? —<br />
Você está cheirando a si mesmo — ela disse bruscamente e levantou a sacola para balançar o<br />
logo na frente dele. — Hermès.