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Foi para a rua e o encontrou vestindo jeans e ja<strong>que</strong>ta diante da porta de seu laboratoire,<br />
dando o <strong>que</strong> parecia ser uma entrevista improvisada para várias pessoas com câmeras<br />
sofisticadas, microfones e gravadores. —... Desesperada — ele deu de ombros. — Posso<br />
entender o desespero dela por um bom <strong>chocolate</strong>.<br />
Como de costume, quais<strong>que</strong>r <strong>que</strong> fossem seus pensamentos e suas emoções para procurálo,<br />
o fato de vê-lo conseguiu incitá-la a uma raiva instantânea.<br />
Ele parecia uma vítima de causar dó perto da raiva <strong>que</strong> ela sentia agora. O cabelo<br />
despenteado, a barba por fazer, os olhos vermelhos de <strong>que</strong>m não dormira, e ela reconheceu<br />
tudo aquilo de suas muitas noites resolvendo problemas urgentes na Chocolates Corey. No<br />
entanto, ainda estava sexy. Ela podia apostar <strong>que</strong> ele apareceria bem nas fotos dos jornais,<br />
mesmo abatido em decorrência dos ata<strong>que</strong>s <strong>que</strong> recebera da detestável corporação<br />
multinacional, mas ainda sustentando o ideal do apelo sexual francês.<br />
Tentava pensar rapidamente em qual<strong>que</strong>r coisa <strong>que</strong> pudesse fazer para melhorar a própria<br />
imagem na<strong>que</strong>las fotografias, mas sabia <strong>que</strong> era bonita demais e não conseguiria parecer tão<br />
mal. Ela ia fazer o papel de vilã da história. Assim, tentou posicionar-se mais para trás, em<br />
seu prédio, antes <strong>que</strong> os jornalistas a vissem, mas a porta estava trancada.<br />
Levaria alguns segundos para digitar o código. Se eles a vissem voltando para seu<br />
apartamento e a encurralassem, ela não saberia quanto tempo teria de ficar escondida. Era o<br />
fim da picada em termos de fracasso, ser encurralada em seu apartamento em Paris, com medo<br />
de sair, tendo de manter-se viva com as próprias barras de <strong>chocolate</strong>, as Barras Corey.<br />
Rapidamente foi para a esquina mais próxima, esperando <strong>que</strong> ninguém a localizasse.<br />
Afinal, será <strong>que</strong> eles teriam estudado bem as fotos dela? De maneira geral, não era alguém <strong>que</strong><br />
as pessoas reconhecessem de pronto, e sua aparência era bastante neutra; cabelo castanho<br />
claro liso, olhos azuis, até mesmo as feições...<br />
Desnecessário dizer <strong>que</strong> Sylvain Marquis a reconheceu na mesma hora. Com o rosto<br />
fechado e o olhar <strong>que</strong> a alfinetava.<br />
Ela ainda conseguia sentir o sabor do <strong>chocolate</strong> amargo em sua língua. Talvez ainda<br />
houvesse um pouco dele nos dedos.<br />
— Ela é como a pobre menininha rica do <strong>chocolate</strong>, se pensarmos a respeito — disse<br />
Sylvain, levantando a voz.<br />
O <strong>que</strong> ele estava fazendo para ela? Uma espécie de caridade? Estaria tentando dar a<br />
entender <strong>que</strong> transara com ela por pena, por causa do desespero dela?<br />
E então ela parou de andar e virou-se, furiosa.<br />
Antes <strong>que</strong> pudesse fazer algo meio <strong>que</strong> suicida, como desafiá-lo na presença de todos<br />
a<strong>que</strong>les jornalistas, ainda alheios à sua presença, alguém a agarrou pelo cotovelo. Um homem<br />
de estatura mediana, com cabelos escuros e encaracolados, sorriu para ela com prazer.<br />
— Mademoiselle Co-ree — disse o homem, em voz baixa, de modo <strong>que</strong> não chamasse a<br />
atenção dos <strong>que</strong> estavam do outro lado da rua. — Je peux vous offrir un café?