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A Empresa <strong>de</strong> Corpo, Mente e Alma<br />
Seria uma existência sem sentido. Precisamos trabalhar. On<strong>de</strong> exercitar os<br />
talentos que a natureza nos conce<strong>de</strong>u? On<strong>de</strong> pôr em prática nossas habilida<strong>de</strong>s?<br />
O que fazer com nossas aptidões? O que fazer com nossa criativida<strong>de</strong>, nossa<br />
imaginação, nossos sonhos? E nossos sentimentos, nossas forças? E a vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> produzir a beleza e a riqueza? O homem tem direito ao trabalho assim como<br />
tem direito à vida.<br />
O trabalho não po<strong>de</strong> cercear a liberda<strong>de</strong>, isto é, a vida da <strong>alma</strong>. O trabalho<br />
livre por uma li<strong>de</strong>rança participativa é legítimo; o trabalho forçado por uma<br />
li<strong>de</strong>rança autoritária é ilegítimo.<br />
Não po<strong>de</strong> ser essa gravata o que<br />
sufoca<br />
Agripino é funcionário público. trabalha no setor <strong>de</strong> contas a pagar <strong>de</strong> uma das<br />
divisões <strong>de</strong> uma repartição pública. Não ganha mal, leva uma vida com padrão <strong>de</strong><br />
classe média da população brasileira. Além do mais, possui uma série <strong>de</strong><br />
benefícios, como assistência médica, vale-refeição, vale-transporte, vale-teatro e<br />
outros vales. É formado em Administração <strong>de</strong> Empresas, casado, sem filhos.<br />
O casal mora em um apartamento <strong>de</strong> dois quartos financiado pela caixa.<br />
Agripino tem um Gol ano 90 e a esposa, Camila, um Uno um pouco mais novo.<br />
Agripino só consegue ser feliz dois dias por semana. É quando ele e<br />
Camila saem do trabalho na sexta-feira e “se mandam” para a Baixada Santista.<br />
O ritual se repete todas as semanas. Já saem com o carro equipado na sextafeira<br />
<strong>de</strong> manhã e vão aportar, eufóricos, em algumas das praias do litoral paulista,<br />
ao encontra dos amigos. Lá bebem, cantam, dançam, nadam, brigam, se<br />
bronzeiam, se queimam... Voltam sempre dizendo que foi muito bom, que valeu a<br />
pena! Difícil <strong>de</strong> acreditar quando, no veraneio, o tráfego congestionado faz com<br />
que se gastem cinco horas apenas para <strong>de</strong>scer ou subir.<br />
Mas quando voltam Agripino e Camila só fazem pensar em uma coisa: no<br />
próximo fim <strong>de</strong> semana. O casal <strong>de</strong> nossa história não á muito diferente da<br />
paranóia que atinge milhares <strong>de</strong> cidadãos <strong>de</strong>sta nossa “paulicéia <strong>de</strong>svairada”,<br />
como diria Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />
Nem tudo é só alegria nos finais <strong>de</strong> semana. Agripino não suporta aquela<br />
musiquinha do Fantástico no domingo à noite. É a senha que avisa que o dia<br />
seguinte é dia <strong>de</strong> trabalho.<br />
Enquanto Camila se arruma na segunda-feira <strong>de</strong> manhã, a Jovem Pan<br />
avisa que a semana é para valer pelo prefixo composto por Billy Blanco:<br />
“Vambora, vambora, olha a hora, vambora, vambora!”<br />
Na repartição pública, no entanto, a mesmice <strong>de</strong> sempre. Recebimento <strong>de</strong><br />
documentos conforme o manual, averiguação da autorização <strong>de</strong> pagamento<br />
conforme o manual, preenchimento dos vouches conforme a manual,<br />
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