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As Ideologias e o Poder em Crise

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Fúria destrutiva<br />

Volto ao probl<strong>em</strong>a da violência. Matéria para novas reflexões<br />

não falta. De resto, nunca faltou neste imenso hospício (a expressão é<br />

de Hegel) que é a história humana.<br />

Novas reflexões é uma maneira de dizer. Sobre o horror da<br />

violência — horror no duplo sentido de que toda ação violenta causa<br />

medo e suscita repugnância — foi escrito tudo o que era possível<br />

escrever. O probl<strong>em</strong>a não é tanto escrever uma linha a mais, mas<br />

entender por que tudo aquilo que se escreveu até agora foi<br />

inteiramente inútil. Não só o hospício continuou seu exercício <strong>em</strong><br />

pleno ritmo, mas o aperfeiçoou, de tal maneira que pela primeira vez<br />

na história a humanidade se acha frente à ameaça da violência<br />

última. Última num sentido novo. Até agora, por violência última, se<br />

entendia a violência destinada a eliminar qualquer outra forma de<br />

violência (permanente ilusão dos fanáticos da revolução) a fim de<br />

estabelecer o reino da paz perpétua. Hoje, por violência última se<br />

pode entender a violência que torna impossível toda e qualquer outra<br />

forma de violência, porque eliminaria <strong>em</strong> poucos instantes os<br />

violentados e os violentadores (a paz perpétua, sim, mas no sentido<br />

da tabuleta do taberneiro holandês, onde estava pintado um<br />

c<strong>em</strong>itério, a que se refere Kant).<br />

Tudo que se disse e escreveu contra o horror da violência foi tão<br />

inútil como as fórmulas mágicas que os bruxos pronunciaram e<br />

continuam a pronunciar contra a fúria da natureza. Pois b<strong>em</strong>,<br />

contra a fúria dos homens não foram pronunciadas formulas<br />

mágicas, mas usados argumentos que apelam ao coração e à razão (a<br />

natureza não t<strong>em</strong> razão n<strong>em</strong> coração), construídas teorias<br />

elaboradíssimas e levantados sist<strong>em</strong>as filosóficos inteiros.<br />

Há mais de c<strong>em</strong> anos escreveu-se que, se à violência se pudesse<br />

opor argumentos, deveriam ser considerados definitivos: "Com a

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