As Ideologias e o Poder em Crise
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Os homens como coisas<br />
Pensando <strong>em</strong> Cario Casalegno e na atrocidade de sua morte,<br />
repeti para mim mesmo várias vezes uma frase de Aldo Capitini,<br />
que me tinha impressionado desde o momento <strong>em</strong> que a li pela<br />
primeira vez <strong>em</strong> seu primeiro livro, El<strong>em</strong>entos de uma experiência<br />
religiosa, publicado <strong>em</strong> 1937, no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a guerra da Espanha<br />
arr<strong>em</strong>etia com aquele tipo de violência que gera violência e só acaba<br />
na violência duradoura e total de uma ditadura: "Se os homens for<strong>em</strong><br />
considerados como coisas, matá-los é um ruído, um objeto caído".<br />
Para os terroristas e para aqueles que os admiram, naquele dia,<br />
junto àquele portão, nada mais que um barulho, um objeto caído.<br />
Encontrei idêntico pensamento expresso com admirável força e<br />
contido furor por Guido Ceronetti, neste mesmo jornal, o qual, <strong>em</strong> 16<br />
de nov<strong>em</strong>bro de 1978, no primeiro aniversário do atentado, escrevia:<br />
"Este terrorismo não t<strong>em</strong> objetivos de pessoas mas de coisas".<br />
Daquele dia <strong>em</strong> diante, muitos outros ruídos, muitos outros<br />
objetos caídos. Esses ruídos são disparos, esses objetos são homens,<br />
escolhidos ao acaso entre magistrados, políticos, sindicalistas e<br />
jornalistas. Escolhidos ao acaso porque, como as coisas que os<br />
juristas chamam "fungíveis", um t<strong>em</strong> o mesmo valor que o outro.<br />
Quando os homens são reduzidos a meios, a linguag<strong>em</strong> das coisas<br />
se adapta perfeitamente às pessoas.<br />
Passou um ano desde essa morte. Continuamos a nos<br />
perguntar <strong>em</strong> vão sobre a razão dessa morte. Não encontramos<br />
uma resposta. O assassinato nos parece tanto mais cruel quanto<br />
inútil e gratuito, desumano, s<strong>em</strong> outro efeito que não o de truncar uma<br />
vida, com brutalidade e insensatez.<br />
<strong>As</strong> análises do terrorismo suced<strong>em</strong>-se hoje <strong>em</strong> ritmo intenso, dia<br />
após dia. Mas todas param diante de um obstáculo que parece<br />
insuperável: quais os seus objetivos? Quando quer<strong>em</strong>os entender o sentido