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As Ideologias e o Poder em Crise

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para ampliar a própria esfera de poder. Em vez de assumir<strong>em</strong> a<br />

responsabilidade de seus comportamentos mais clamorosos e<br />

criticáveis, <strong>em</strong>pregam toda a habilidade dialética para d<strong>em</strong>onstrar<br />

que a responsabilidade é do adversário, a tal ponto que o país vai se<br />

arruinando e ninguém é responsável. E <strong>em</strong> vez de se tornar<strong>em</strong> menos<br />

intolerantes uns para com os outros, tornaram-se, b<strong>em</strong> ao contrário,<br />

cada vez mais briguentos.<br />

Uma das razões pelas quais a crise de hoje é mais grave que todas<br />

as outras é a proliferação s<strong>em</strong> precedentes do facciosismo. Os partidos<br />

estão se transformando <strong>em</strong> facções. Na grande literatura política de todos<br />

os t<strong>em</strong>pos há um t<strong>em</strong>a permanente sobre o qual os políticos deveriam<br />

refletir: as facções são a ruína das repúblicas. E os partidos se<br />

transformam <strong>em</strong> facções quando lutam unicamente pelo seu poder para<br />

tirar um pouco de poder às outras facções, sendo que, para atingir seus<br />

objetivos, não hesitam <strong>em</strong> despedaçar o Estado.<br />

Através das liberdades civis e políticas, sobretudo da liberdade de<br />

associação — especificamente da associação para fins políticos — e através<br />

do reconhecimento da legitimidade da oposição, o Estado liberal primeiro e<br />

o Estado d<strong>em</strong>ocrático depois, tornaram possível a transformação das<br />

antigas facções nos partidos modernos. Quando, por sua vez, os partidos<br />

degeneram <strong>em</strong> facções, é sinal de que os mecanismos constitucionais que<br />

deviam garantir a livre e fecunda disputa dos vários grupos políticos não<br />

funcionam mais, e a d<strong>em</strong>ocracia, ou seja, o regime que permite a livre e<br />

fecunda disputa dos diversos grupos políticos, fica <strong>em</strong> perigo.<br />

Tanto mais grave, por isso, parece a crise atual, na qual os únicos<br />

que não se dão conta (ou fing<strong>em</strong> não entender) são exatamente aqueles<br />

que deveriam oferecer o r<strong>em</strong>édio. Seu jogo de poder, <strong>em</strong> primeiro lugar. A<br />

única coisa que conta é conquistar mais um miligrama de poder ou não<br />

perder o miligrama já conquistado. Para que serve esse miligrama de<br />

poder, para mais ou para menos, ninguém deve saber. "Não se deve fazer<br />

saber ao cidadão" — este poderia ser o mote <strong>em</strong> que se baseiam — "para<br />

que serve a luta pelo poder". O probl<strong>em</strong>a fundamental parece ser "qu<strong>em</strong><br />

deve ter o poder" e "com qu<strong>em</strong> deve estar o poder", não o "usá-lo para

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