As Ideologias e o Poder em Crise
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tenha ajustado contas com a necessária dureza do poder nos casos<br />
de rebelião e de guerra e que não tenha sido constrangida a atenuar<br />
o rigor dos princípios absolutos da moral mediante o expediente,<br />
b<strong>em</strong> conhecido dos juristas, da "derrogação" da lei geral <strong>em</strong> casos<br />
excepcionais, ou da lícita suspensão na aplicação do princípio<br />
quando ocorre o "estado de necessidade". A política também t<strong>em</strong> suas<br />
exigências, diante das quais, <strong>em</strong> casos extr<strong>em</strong>os, a moral deve<br />
inclinar-se. Por outra parte, se a lógica conseqüência da redução da<br />
moral à política é a politização integral da vida humana, ou seja, o<br />
totalitarismo, não existe Estado totalitário, como a história crescente<br />
dos dissidentes dos países do Leste europeu diariamente nos atesta,<br />
que tenha conseguido ab-rogar, por decreto soberano, as leis<br />
fundamentais e universais da convivência, que são as leis morais.<br />
Leia-se a página que Alexander Zinoviev dedica ao probl<strong>em</strong>a no seu<br />
livro ao mesmo t<strong>em</strong>po fascinante e desconcertante intitulado <strong>As</strong><br />
alturas abissais, onde se defende que qualquer sociedade t<strong>em</strong><br />
necessidade de uma moral para sobreviver e que a moral t<strong>em</strong><br />
necessidade da liberdade para ser aceita e observada.<br />
De fato, o probl<strong>em</strong>a é insolúvel. A solução, geralmente aceita,<br />
segundo a qual a política é autônoma <strong>em</strong> relação à moral, a solução<br />
chamada de "amoralidade da política", na verdade não é uma<br />
solução, mas pura e simplesmente a constatação do dualismo. Não<br />
se pode definir a política amoral s<strong>em</strong> se redefinir ao mesmo t<strong>em</strong>po a<br />
moral como apolítica. O probl<strong>em</strong>a é insolúvel porque, conforme já<br />
expus atrás, quando falamos de moral e de política nos referimos, na<br />
realidade, mesmo que disso não nos d<strong>em</strong>os conta, a ações e<br />
complexos de ações que estão na base de dois códigos de normas de<br />
comportamento diferentes, fundados <strong>em</strong> critérios de avaliação<br />
diferentes: os valores e o sucesso. Esses dois códigos são diferentes<br />
porque correspond<strong>em</strong> a duas exigências diferentes: a primeira é a<br />
convivência dentro da comunidade; a segunda, a sobrevivência da<br />
comunidade <strong>em</strong> relação às d<strong>em</strong>ais comunidades. Até a maior ou<br />
menor aplicação depende de condições objetivas diferentes: numa vida