As Ideologias e o Poder em Crise
As Ideologias e o Poder em Crise
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A política não pode<br />
absolver o crime<br />
No aniversário do seqüestro de Aldo Moro e do brutal<br />
assassinato da sua escolta, se me oferece a ocasião de voltar à<br />
t<strong>em</strong>ática tratada no escrito sobre moral e política, "Dois códigos<br />
diferentes mas necessários". Afirmei que, quando se fala do contraste<br />
entre moral e política, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre nos damos conta de que o<br />
contraste depende do fato de que qualquer ação s<strong>em</strong>pre pode ser<br />
julgada de dois pontos de vista diferentes, até opostos. Do ponto de<br />
vista de sua conformidade com os princípios assumidos como<br />
indiscutíveis e baseados nos quais são consideradas boas as ações<br />
que lhes diz<strong>em</strong> respeito e más aquelas que os violam; ou do ponto de<br />
vista do resultado que com aquela ação o agente se prefigura<br />
conseguir e com base no qual é feita uma avaliação positiva da ação<br />
que o alcança e uma avaliação negativa da ação que não o alcança,<br />
independente da consideração dos princípios ou normas que a<br />
inspiraram.<br />
Nestes dias, várias vezes me foi colocada, até publicamente, a<br />
pergunta sobre se os autores do seqüestro e do assassinato de Aldo<br />
Moro alcançaram os objetivos que se haviam proposto e se, com isso,<br />
se havia modificado substancialmente a situação política italiana.<br />
Uma pergunta desse tipo é manifestamente dirigida para se conseguir<br />
do interrogado um juízo político. Prescinde completamente do juízo<br />
moral. T<strong>em</strong> <strong>em</strong> vista os efeitos da ação <strong>em</strong> julgamento e se<br />
desinteressa dos princípios. Em outras palavras, qu<strong>em</strong> faz uma<br />
pergunta dessas propõe-se somente saber se a ação teve sucesso por<br />
parte de qu<strong>em</strong> a idealizou e praticou. Que uma ação seja<br />
moralmente repugnante pela sua desumanidade não é sequer<br />
colocado <strong>em</strong> discussão. Isso não interessa. Uma vez que aceitamos<br />
raciocinar segundo a ética do resultado, o que interessa não é se tal