As Ideologias e o Poder em Crise
As Ideologias e o Poder em Crise
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própria adolescência, leituras que ficaram <strong>em</strong> sua m<strong>em</strong>ória tenaz e<br />
prodigiosa, e cita tanto as palavras de uma pessoa de autoridade, como a<br />
conversa com um hom<strong>em</strong> da rua. L<strong>em</strong>bra episódios realmente sucedidos<br />
e tramas de romances, narra como historiador os fatos que importam, e<br />
não desdenha, como jurista, os pequenos dramas quotidianos que o<br />
hom<strong>em</strong> de lei é convidado a resolver.<br />
Além de historiador e de jurista, é um observador atento, da mesma<br />
forma que o era Luigi Einaudi, um autor que aprecia e que cita s<strong>em</strong>pre,<br />
com honra, aqueles mínimos eventos que os historiadores profissionais<br />
chamam, com razão, de historicamente irrelevantes; os fatos de que<br />
dispõe para tecer a sua trama são inumeráveis e tirados das áreas mais<br />
diferentes e das épocas mais distantes; eles constitu<strong>em</strong> um repertório<br />
inexaurível de oportunidades para exprimir um juízo, de apontamentos<br />
para uma reflexão e de ex<strong>em</strong>plos para uma conclusão moral.<br />
Não ideologiza porque não acredita que as ideologias políticas são<br />
destinadas a salvar o mundo n<strong>em</strong> que as ideologias que dominam a cena<br />
sejam doutrinas de salvação. Para ele, a doutrina da salvação é uma só.<br />
Se desta decadência — e que na sua obra existe o sentido da decadência<br />
parece estar fora de dúvida — o hom<strong>em</strong> conseguir salvar-se, isso não<br />
dependerá do triunfo desta ou daquela ideologia.<br />
Dependerá da renovação moral que ninguém pode prever e muito<br />
menos provocar através de uma receita mais ou menos b<strong>em</strong>-confeccionada<br />
de transformação social. Os desígnios da Providência são imperscrutáveis<br />
e, da estirpe de Caim, escreveu ele recent<strong>em</strong>ente, nasceram também os<br />
profetas, os santos, os homens de caridade e de sabedoria. Por que não<br />
deverão eles renascer? Quando e como não nos é dado saber.<br />
S<strong>em</strong>pre pensei que a diferença essencial entre uma concepção<br />
religiosa e uma concepção exclusivamente política da história, e, portanto,<br />
do destino individual e coletivo da humanidade, está <strong>em</strong> que o reformador<br />
político acredita na renovação do hom<strong>em</strong> através da reforma social, da<br />
mudança mesmo radical das instituições, e o religioso, ao contrário,<br />
acredita que as instituições e a sociedade mudarão quando mudar o<br />
hom<strong>em</strong>, e quando nascer ou renascer o hom<strong>em</strong> novo. Mas renascerá?