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As Ideologias e o Poder em Crise

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para obter instrução, assistência e proteção. O ideal do Estado-garante<br />

era o ideal do Estado cujo único serviço seria permitir o livre jogo dos<br />

interesses e o livre contraste de idéias. Atualmente, quando se fala de<br />

indivíduos ou de grupos "não-garantidos", a expressão t<strong>em</strong> um sentido<br />

diferente, não certamente o do Estado liberal, mas o de um Estado cuja<br />

função é não só impedir as várias formas de liberdade negativa, na qual<br />

consiste a chamada "liberdade dos modernos", mas também assegurar<br />

um mínimo de instrução, um <strong>em</strong>prego, uma aposentadoria para a velhice<br />

e outras coisas mais. O "não-garantido" de outros t<strong>em</strong>pos era o excluído<br />

dos direitos civis e políticos, o que não tinha direito de voto e não podia<br />

fazer ouvir a sua voz. O "não-garantido" de hoje é, por sua vez, o<br />

desocupado, aquele que t<strong>em</strong> um direito que ultrapassa o direito do voto,<br />

um direito que requer a imediata intervenção ativa do Estado e o<br />

necessário aumento dos aparelhos estatais. Drasticamente: mais<br />

d<strong>em</strong>ocracia comportou, até agora, mais burocracia.<br />

Quando, finalmente, digo que os dois processos são irreversíveis, não<br />

quero dizer que não possam ser interrompidos, n<strong>em</strong> tampouco que até<br />

agora existiram lado a lado ou devam existir assim no futuro. O que<br />

quero dizer, simplesmente, é que acho pouco provável uma inversão de<br />

rota, como poderia ser aquela que levasse, <strong>em</strong> certo sentido, à privatização<br />

do público, e, <strong>em</strong> sentido oposto, à restrição dos direitos civis e políticos.<br />

Por outras palavras, um processo que levasse ao desmantelamento do<br />

Estado para dar mais liberdade, por um lado, e, por outro, à limitação<br />

das liberdades políticas para tornar mais segura e eficaz a ação do<br />

Estado.<br />

A minha conclusão é que dev<strong>em</strong>os resignar-nos <strong>em</strong> conviver com<br />

essas duas tendências fundamentais da sociedade cont<strong>em</strong>porânea, que<br />

pod<strong>em</strong>os resumir numa mais ampla socialização do poder (essência da<br />

d<strong>em</strong>ocracia integral) e numa mais ampla estatização das funções<br />

essenciais de sobrevivência e de desenvolvimento da sociedade, sendo a<br />

primeira o único antídoto da segunda. Isso não é novidade. Toda a história<br />

humana é um movimento contínuo de tentativas e contra-tentativas,<br />

parecendo ter sido feita para dar razão àqueles que não pretend<strong>em</strong>

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