As Ideologias e o Poder em Crise
As Ideologias e o Poder em Crise
As Ideologias e o Poder em Crise
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
é um dos "t<strong>em</strong>as recorrentes" da tratadística política de todos os<br />
t<strong>em</strong>pos. Falando das revoluções, ou seja, das mudanças de regime para<br />
regime, Aristóteles declara apoditicamente: "<strong>As</strong> constituições são<br />
derrubadas umas vezes com a violência, outras com o <strong>em</strong>buste".<br />
Já foram feitas tentativas para dar uma solução a esse contraste. O<br />
debate secular sobre a "razão de Estado" é uma alternativa contínua das<br />
mais diferentes e engenhosas respostas dadas a esta pergunta: "O Estado<br />
obedece às mesmas normas de comportamento a que obedece cada<br />
indivíduo?", s<strong>em</strong> que nenhum resultado convincente jamais tivesse sido<br />
alcançado. Se o debate nos dias atuais parece <strong>em</strong> grande parte superado,<br />
isso não significa que o probl<strong>em</strong>a tenha sido resolvido. A verdade é que<br />
após as duas grandes hecatombes das guerras mundiais e da catástrofe<br />
das duas grandes revoluções russa e chinesa nos habituamos<br />
tranqüilamente à "imoralidade" da política, assim como à "imoralidade" da<br />
grande política das grandes potências, que é o que conta.<br />
<strong>As</strong> várias tentativas para superar o contraste entre a moral e a<br />
política pod<strong>em</strong> reduzir-se, dentro de um certo esqu<strong>em</strong>atismo, a duas<br />
principais: a solução política através da moral e a solução moral através<br />
da política. A figura ideal para a primeira solução é a do príncipe cristão<br />
ou do soberano que é legítimo tão-somente quando obedece a leis morais,<br />
naturais e divinas, que é príncipe pelo sumo poder de que está investido,<br />
ou pelos próprios direitos, e ao mesmo t<strong>em</strong>po cristão pelo modo através<br />
do qual este poder deve ser exercido, pela natureza dos próprios deveres. A<br />
figura ideal da segunda solução é a benéfica figura bíblica, o Leviatã, que<br />
representa no pensamento político de Hobbes a exclusividade do poder do<br />
Estado a respeito de todos os outros poderes, o poder que é ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po espiritual e t<strong>em</strong>poral, árbitro do b<strong>em</strong> e do mal, porque só a sua força<br />
irresistível t<strong>em</strong> condições de revelar aos homens de modo per<strong>em</strong>ptório<br />
aquilo que dev<strong>em</strong> fazer e aquilo que dev<strong>em</strong> evitar.<br />
<strong>As</strong> duas soluções são doutrinais e delas s<strong>em</strong>pre escaparam a<br />
compreensão do mundo complexo e turbulento das paixões humanas,<br />
de um lado, e a consciência das forças ideais que mov<strong>em</strong> os homens<br />
de fé, do outro. Não existe idealização do príncipe virtuoso que não