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As Ideologias e o Poder em Crise

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obter certos resultados e não outros". Se se dess<strong>em</strong> conta, pelo menos,<br />

de que o público está de olhos voltados para eles, na melhor das hipóteses<br />

olhando-os com indiferença, mas, segundo uma hipótese mais realista,<br />

com crescente apreensão!<br />

Formar um governo (ah, sim, o famoso probl<strong>em</strong>a da<br />

governabilidade!) não significa juntar um determinado número de<br />

ministros e secretários. Significa criar as condições necessárias para<br />

produzir leis a ser<strong>em</strong> obedecidas por todos os cidadãos. Mas, para que<br />

os cidadãos sejam induzidos a obedecer, não é preciso que os<br />

governantes e os legisladores, para usarmos uma terminologia solene,<br />

goz<strong>em</strong> de sua confiança? Mas de que confiança pod<strong>em</strong> gozar os<br />

governantes que continuam a expor-se ao público com ações <strong>em</strong> que<br />

a máxima aposta <strong>em</strong> jogo é o cargo de ministro ou até o de<br />

presidente do Conselho e não o interesse geral de um país que está<br />

sendo marginalizado? Qu<strong>em</strong>, na verdade, pode acreditar, fora do<br />

palácio do Governo, que o interesse geral do país será melhor<br />

defendido com um ministro liberal a mais ou a menos, ou com um<br />

presidente d<strong>em</strong>ocrata-cristão <strong>em</strong> vez de um presidente socialista?<br />

Mas oxalá se tratasse só de inconsciência. Infelizmente as coisas<br />

não são inteiramente assim. Receio que a razão dessa situação seja<br />

mais profunda e que não se trate só de inconsciência, mas de<br />

impotência. O que quer isso dizer? Quer dizer que, por uma autêntica<br />

deformação profissional, aqueles para os quais a política se tornou<br />

uma profissão, se continuar<strong>em</strong> a considerar como prioritários os<br />

probl<strong>em</strong>as do poder — do próprio poder — e não os de um governo<br />

correto e sábio, terminarão por dar xeque-mate uns contra os outros<br />

e por criar um estado objetivo de impotência universal, da qual hoje<br />

eles mesmos são prisioneiros e amanhã poderão ser as vítimas.<br />

4 de agosto de 1979

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